Eu tive fome... (Mt
25,31-46)
Sim,
nosso Rei é um Rei-mendigo. Vive de esmolas. Senhor de tudo, passeia por nossas
ruas com as mãos vazias, estendidas em nossa direção. Por que teria assumido
esse disfarce?
Ora,
Ele conhece bem a nossa natureza humana. Sabe que somos interesseiros e
bajuladores. Se o Rei se manifestasse a nós em todo o seu poder e majestade,
logo estaríamos estendendo tapetes vermelhos à sua passagem, dobrando nossos
joelhos em salamaleques e rapapés. Logo estaríamos de olho em um ministério ou,
quem sabe, uma subsecretaria...
Sim. É duro
reconhecer, mas a proximidade dos poderosos desperta em nós aquilo que temos de
pior. Logo tentaríamos levar vantagem às custas de nosso Senhor e Rei.
Usaríamos seu braço forte para aniquilar nossos inimigos. Assaltaríamos os
tesouros de sua graça em benefício próprio. Além da velha tentação de dividir o
planeta em dois partidos: o nosso lado e... o outro lado...
Deve
ser por isso que o Rei vem até nós de forma miserável. Ele tem fome e sede. Ele
é preso e hospitalizado. Ele veste andrajos e não tem uma pedra onde repousar a
cabeça. Assim fraco e deficiente, sem atrativos, até mesmo repulsivo, ninguém
se aproximará dele por interesse ou comodismo. Se alguém lhe estender a mão,
certamente o fará por amor...
Ao
celebrar Cristo Rei, corremos o risco de cair no velho triunfalismo e insistir
em imagens emprestadas das monarquias ocidentais. Será que ainda não percebemos
que a coroa de Cristo é uma coroa de espinhos? Ah! O Reino de Cristo não é
reino de poder, como aqui se estabelecem os potentados deste mundo! Seu Reino é
um “estado de amor”, onde o dinamismo do ser transborda na direção dos mais
fracos, dos mais pobres.
Por
que? Porque Deus é assim: pastor de ovelhas abandonadas, ele dá tudo para
retomá-las, para salvar suas vidas e curar suas enfermidades. O Rei sempre
nivela tudo por baixo, atendendo primeiro aquele que mais necessita. O Rei tem
coração mole: logo se derrete diante de nossas dores. Nossa miséria faz cócegas
em sua misericórdia...
Que
decepção a daqueles discípulos, cuja mãe apresentou a Jesus um requerimento em
três vias, estampilhado, com firma reconhecida, solicitando que os dois se
sentassem no Reino, um à direita e um à esquerda do Senhor! Quanta
impertinência materna! Afinal, no Reino, não há tempo para se sentar. O Reino é
dinâmico, é um movimento de amor. Para entrar no Reino, a primeira condição é
caminhar.
E
caminhar depressa! O Rei não tem tempo a perder em sua exigente missão!
Orai sem cessar: “Ele
era desprezado, deixado de lado pelos homens...” (Is 53,3)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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