Da sua penúria... (Lc 21,1-4)
Esta viúva
pobrezinha do Evangelho está na contramão do sistema capitalista. Desde
criança, ouvimos frases como esta: “Quem dá o que tem, a precisar vem!”
Trabalhar para acumular dinheiro, terras e rebanhos sempre foi reconhecido como
louvável virtude. Chamava-se “previdência”. Os homens ainda são elogiados por
terem sucesso neste campo. Já o “mão-aberta” é visto como um esbanjador sem
juízo. Com frequência, os economistas comparam o comportamento de brasileiros e
japoneses, realçando nestes últimos a sua capacidade de poupança.
Ora, a pobre
viúva elogiada por Jesus faz exatamente o contrário: tinha pouco, quase nada,
duas ínfimas moedinhas de cobre. Pois o pouco que possuía, ela doou como
esmola, no cofre do Templo de Jerusalém. Em sua generosa simplicidade, quis
dessa maneira manifestar a Deus o seu sentimento religioso.
A gente simples
do povo ainda costuma fazer coisas semelhantes: gastam dinheiro com velas
votivas e ex-votos, com romarias e peregrinações, doam cabeças de seu pequeno
gado para leilões do santo padroeiro.
É verdade que nas classes mais ricas a
generosidade também existe, ainda que em menores proporções. Quando o coração
humano fica preso aos bens materiais, logo perde sua capacidade de doação.
Segundo os párocos, a maior parte dos dizimistas sai das camadas mais pobres da
população. O edifício dos templos costuma ser construído com os palpites dos
ricos e a esmola dos pobres...
Mas não é só com
doações em dinheiro que a generosidade se manifesta. Muita gente é generosa em
doar seu tempo, como voluntários em creches e hospitais, evangelizando nas
penitenciárias, rezando nas enfermarias, organizando associações em favelas e
bairros de periferia. Tal como a viúva no Templo, cada um dá “de sua penúria”.
Na 2ª Carta aos
Coríntios, o apóstolo Paulo nos exorta: “Dê cada um conforme o impulso de seu
coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria.
Poderoso é Deus para cumular-vos com toda espécie de benefícios, para que tendo
sempre e em todas as coisas o necessário, vos sobre ainda muito para toda espécie
de boas obras.” (2Cor 10,7-8)
E nós? Temos
partilhado com os mais necessitados a abundância de dons que de Deus recebemos?
Ou ainda estamos hesitantes em trocar a humana previdência pela divina
Providência?
Orai sem cessar: “Como
retribuir ao Senhor todo o bem que me fez?” (Sl 116,12)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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