terça-feira, 23 de dezembro de 2014

PALAVRA DE VIDA

A mão do Senhor estava com ele... (Lc 1,57-66)
           João Batista é personagem proeminente na Sagrada Escritura. Previsto por Malaquias (cf. Ml 3,1-4), a última voz profética da Primeira Aliança, anunciado pelo anjo Gabriel no santuário do Templo de Jerusalém (cf. Lc 1,11.19), gerado de modo maravilhoso no seio de uma idosa estéril (cf. Lc 1,7), o Batizador veio para impactar. De boca em boca, perguntavam-se: “Que vai ser este menino?” (Lc 1,66)

            Muito cedo, João se retira ao deserto, onde convive com a natureza áspera e vive uma vida ascética, alimentando-se de insetos e mel silvestre (cf. Mt 3,4). Nas ilhargas, o cinturão de couro dos profetas antigos (cf. 2Rs 1,8), vestidos com a mesma veste de misericórdia com que o Criador cobrira a nudez dos primeiros pais (cf. Gn 3,21).
            Quando João Batista inaugura sua vida pública e convoca todo Israel para um mergulho no Jordão (cf. Mt 3,6), um banho ritual de penitência, sinal de abertura ao Messias que se fazia próximo, sua estatura espiritual chega a abalar o Templo e os palácios. Sacerdotes e levitas são interpelados por sua figura (cf. Jo 1,19-23). O Rei Herodes treme diante de sua pregação (Mt 14,5). E João, intrépido, levará até o fim a sua missão de abrir caminho ao Salvador.
            É fácil aceitar que “a mão do Senhor estava com ele” quando se contempla o maravilhoso de seu nascimento, o ascetismo de sua vida, a ousadia de sua pregação. Qualquer um aceitaria papel semelhante, guiado e sustentado pela mão divina.
            A mesma coisa já não posso dizer quando vemos que o Batista é preso e lançado ao calabouço. Muito menos quando o carrasco o degola e sua cabeça é levada como espetáculo para o rei e seus cortesãos embriagados. É assim, então, que a mão de Deus sustenta seus ministros?
            Pergunta infantil. Deve ser deixada em suspenso enquanto desviamos nossos olhos para o Calvário, onde o próprio Filho de Deus se entrega como o cordeiro do Monte Moriá (cf. Gn 22,13). A “mão de Deus” não nos garante facilidades nem “fecha o corpo” de ninguém. A multidão de mártires ao longo da História da Igreja atesta que sofrer e perder a vida é a condição habitual para os profetas e servidores do Senhor.
            A figura de João deve pôr um fim em nossas queixas e reclamações...
Orai sem cessar: “Na tua mão está o meu destino!” (Sl 31,16)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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