E habitou entre nós... (Jo 1,1-18)
Pobre Natal,
transformado em festa de guirlandas e comércio, de champanhes e festins, de
agrados para as crianças! Natal é outra coisa: Deus se fez carne. O Infinito se
faz pequeno. O Onipotente se fragiliza. O Criador se faz criatura, tecida no
seio da Mulher...
Natal? O Eterno invade
nosso Tempo envolto da pequenez do pequeno ser: embrião, feto, bebê. O
Altíssimo baixa, se abaixa, se rebaixa: vai precisar do banho das parteiras
(como nos ícones da Natividade), vai depender do leite materno (como nos ícones
da Galaktotrophousa), vai... morrer na cruz do Calvário...
Contemplando a tela de
Georges de La Tour, uma Natividade, o teólogo Xavier Thévenot admira o Menino
no colo da Mãe:
“O Verbo feito carne,
se bem que ainda infante (isto é, não-falante) por meio da irradiação imperceptível
e pacificadora de seu ser, já se revela como Deus. Mas um Deus tão
discretamente presente a toda a realidade do mundo, que ele se abandona ao sono
sobre os joelhos de sua mãe. Um Deus que dorme! Este é um tema que eu devo meditar
quando sou tentado a compartilhar da atividade febril de nossa sociedade, ou
ainda quando tenho impulsos de iniciar ‘estratégias apostólicas’ excessivamente
desejosas de eficácia.”
Chocante, não? Deus
desce das alturas para salvar a humanidade e começa por... dormir! Sereno, já
mamou e... dorme. O pincel do pintor deixou-o bem satisfeito no colo materno.
Deus se abandona à mulher, confia nela, relaxa e dorme. Ninguém se admire se,
tempos depois, no Lago de Genesaré, em plena tempestade, o mesmo Menino se
entregar ao sono enquanto os discípulos anteveem o desastre! Aquele que confiou
na Mãe humana também confia no Pai divino.
Que tal encarar um
novo modelo de Natal? Uma festa da confiança. Da entrega. Do abandono. Deus se
entrega a nós para que nos entreguemos a ele. O Deus que se fez criança da
Mulher para que nos tornemos crianças do Pai...
Assim, celebrando o
Natal, fiquemos livres de toda crispação, de toda ansiedade, de qualquer ilusão
a respeito de nossa autonomia, de nossa independência, de nosso dever de
“ganhar a vida” (cf. Mt 10,39; 16,26). O Menino já ganhou por nós...
Orai sem cessar: “Minha morada estará junto deles...” (Ez 37,27)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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