Podes limpar-me! (Mc 1,40-45)
Como sempre
foi ao longo dos séculos, era terrível a situação dos leprosos nos tempos de
Jesus. Comenta a Bíblia de Navarra: “Na lepra via-se um castigo de Deus (cf. Nm
12,10-15). O desaparecimento dessa doença era considerado como uma das bênçãos
da época messiânica (Is 35,8; Mt 11,5; Lc 7,22). Ao doente de lepra, pelo
caráter contagioso dessa doença, a Lei tinha-o declarado impuro e transmissor
de impureza àquelas pessoas que tocava, ou àqueles lugares em que entrava. Por
isso tinha de viver isolado (Nm 5,2; 12,14ss) e mostrar, por um conjunto de
sinais externos, a sua condição de leproso.”
Mas existe
uma lepra ainda pior! A ruína e a degeneração que o pecado produz em nós supera
de longe as deformações da lepra. Afinal, pelo sacramento do Batismo, nós fomos
configurados com Cristo, lavados da culpa original, recebendo a face do Filho e
a habitação do Espírito Santo. Quando optamos pelo pecado, desfiguramos essa
imagem e maculamos o templo de Deus em nós.
Todo pecado
é lepra: rói, deforma, corrói. Desfigura o pecador. Pense na avareza, que leva
o médico a fazer da medicina apenas um meio de ganhar dinheiro. Veja como o
pobre não merece sua atenção. Veja como pergunta ao virtual consulente se ele
tem dólares para pagar pela cirurgia de sua esposa. E como se presta a fazer
abortos assassinos, desde que lhe paguem por isso...
Pense na
luxúria, que leva o homem a comprar o corpo da mulher. A olhar para toda mulher
que passa com um olhar que é, em resumo, um despir. Veja como ninguém escapa de
sua gula assassina, nem a criancinha indefesa. Como ele aluga filmes pornô e
acumula em seu computador centenas de fotos obscenas, sem perceber que
emporcalha sua alma e se rebaixa a um nível sub-humano. Sem amor, o sexo o
esvazia sempre mais de toda ternura e toda delicadeza...
E a ambição,
que move o político a trocar tudo pelo poder, a aceitar qualquer negociata,
qualquer ato de corrupção, desde que isso lhe permita manter-se em posição de
mando. Ambição que leva o empresário a explorar a mão-de-obra do pobre,
fazendo-o escravo ou pagando-lhe salário de fome...
E todos os
leprosos podem ser limpos de seu pecado. Um ladrão, crucificado ao lado de
Jesus, iria reabrir o paraíso (Lc 23,43). O Saulo odioso e violento seria o
novo Paulo a anunciar a salvação estendida aos pagãos. O Agostinho pecador
viria a ser o cantor da misericórdia e da graça de Deus.
Do fundo do
poço, revestido de lepra, o pecador se volta para Cristo num ato de fé: “Se
queres, podes limpar-me...” Ele responde: “Eu quero! Sê limpo!”
Orai sem cessar: “Purifica-me, Senhor, do meu pecado!” (Sl 51,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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