Ali ele orava... (Mc 1,29-39)
Mal amanhece
o dia, estão à procura de Jesus, sedentos de sua palavra e de seus
ensinamentos. Mas ele passara a madrugada no deserto, na presença do Pai. Que
teria o Filho a dizer aos homens se, antes, não tivesse ouvido a voz do Pai?
Estamos
diante da permanente tensão entre uma vida de ação e uma vida de oração, que
reciprocamente se completam e se alimentam: é a relação pessoal com Deus que
permite ao cristão agir em favor da conversão e da salvação dos outros.
Sobre estas
duas “vidas”, assim comenta Gerhard Tersteegen [1697-1769]: “Há um tempo em que
as duas podem coexistir. Digo ‘há um tempo’, porque a mania imatura de querer
instruir e converter faz parte do cristianismo da mesma maneira que a doença
pertence ao corpo! E creio que é preciso fazer um bom pedaço de caminho com
Jesus antes de poder ser admitido no círculo restrito dos apóstolos (cf. At
1,21-22). O próprio Filho de Deus – o que permanece um mistério – não se
manteve escondido por trinta anos antes de começar sua vida pública ou ativa?”
Esta mesma
proporção (30 anos x 3 anos) aponta para a necessidade submeter a vida ativa à
vida contemplativa. Hoje, temos excesso de “agentes” cansados e mergulhados na
ação sem o equivalente tempo dedicado a escutar a Palavra que deveriam
anunciar.
Tersteegen
vai diante: “Quero dizer que os discípulos não deveriam ficar todo o tempo a
agir, sair, falar, mas que é necessário que esses apóstolos se lembrem de
reunir-se aos pés de Jesus para se entreterem com ele e repousar um pouco em
lugar deserto (cf. Mc 6,30-31). Isto permite que o serviço da Palavra permaneça
sempre vinculado à perseverança na oração (cf. At 6,4) e a ela subordinado”.
É próprio de
uma sociedade de produção e consumo, um século de eficiência e resultados,
valorizar os indivíduos ativos e produtivos. Esta mentalidade acaba por invadir
o território eclesial. Mas trata-se de grave engano, pois a conversão dos
corações não é produto do humano engenho, mas da divina Graça. Este engano está
na base de numerosas defecções, tristes abandonos entre os ministros de Deus.
Apoiados em si mesmos e em seus recursos, acabam por desanimar quando a
colheita é magra...
Gerhard
Tersteegen arremata: “Aliás, de modo geral, esses discípulos jamais deveriam
entregar-se desmedidamente à relação e ao trabalho com o próximo, sob o risco
de negligenciarem o ‘vigiai sobre vos mesmos’ (cf. Ti 4,16), ou de deixar esta
vigilância abaixo do ensinamento, pois poderia ocorrer que, depois de ter
pregado aos outros, sejam eles mesmos desqualificados (cf. 1Cor 9,27)”.
Pelo menos,
nós fomos avisados...
Orai sem cessar: “Penso em Ti nas
vigílias noturnas...”
(Sl 63,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.

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