Ele come com os pecadores... (Mc 2,13-17)
Nem
precisávamos do Santo Evangelho para saber disso: basta contemplar a fila da
comunhão, quando Jesus é nosso pão e alimento, para compreender que ele gosta
de sentar-se à mesa conosco, isto é, com os pecadores...
O fato de
Jesus “se misturar” aos publicanos (cobravam imposto para os romanos
invasores...) e aos pecadores públicos (não frequentavam a sinagoga judaica...)
é motivo de críticas e condenações por parte dos escribas e dos fariseus, mui
dignos representantes do establishment
religioso da época.
Pedro
Crisólogo [+450 d.C.] comenta a passagem: “Deus é acusado de se debruçar sobre
o homem, de se estender ao pecador, de ter fome de sua conversão e sede de sua
volta, de tomar o alimento da misericórdia e o cálice da benevolência. Mas,
meus irmãos, Cristo veio para esta refeição, a Vida veio entre esses convivas
para que, condenados à morte, eles viçam com a Vida. A Ressurreição se deitou
para que os que jaziam se ergam de seus túmulos; a Bondade se abaixou para
elevar os pecadores até o perdão; Deus veio ao homem para que o homem chegue a
Deus; o Juiz veio ao banquete dos culpados para retirar da humanidade a
sentença da condenação; o Médico veio aos doentes para os restabelecer, comendo
com eles; o bom Pastor abaixou os ombros para reconduzir a ovelha perdida ao
redil da salvação”.
Belíssimas
imagens! O Deus Altíssimo baixa, se rebaixa, se diminui, renega suas
atribuições de Juiz e – cúmulo do absurdo! – assume nossa humanidade sem
excluir uma genealogia (cf. Mt 1,1-6) de trapaceiros e pecadoras, como Jacó e
Betsabé, idólatras e estrangeiras, como Acaz e Rute, adúlteros e prostitutas,
como Davi e Raab. Mergulhado em nossa carne frágil e mortal, o Filho de Deus
quer nos salvar de dentro para fora...
Pedro
Crisólogo reflete: “Por que ele come com os publicanos e pecadores? Mas quem é
pecador, senão aquele que recusa ver-se como tal? Deixar de se reconhecer
pecador não é o mesmo que mergulhar em seu pecado e, em suma, identificar-se
com ele? E quem é injusto senão aquele que se estima justo? No entanto, ó
fariseu, tu leste a palavra do Salmo: ‘Nenhum ser vivo é inocente diante de
Ti”. (Sl 143,2)
E mais: “Por
todo o tempo em que estamos neste corpo mortal, a fragilidade domina em nós;
mesmo se triunfamos dos pecados de ação, não podemos vencer aqueles do
pensamento nem evitar toda injustiça. E mesmo se temos a força de escapar deles
materialmente e se somos capazes de vencer toda falta consciente, como
poderíamos nós abolir as faltas por negligência e os pecados da ignorância?”
Então, Jesus
come com os pecadores? Ainda bem! Graças a Deus! Esta é a garantia de que
haverá um lugar para nós na mesa de seu Reino...
Orai sem cessar: “Preparas uma mesa para
mim...” (Salmo 23,5)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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