Fitando
o olhar em Jesus... (Jo 1,35-42)
Ubi amor,
ibi oculus. Onde está o amor, aí está o olhar. E toda a literatura
renascentista insistiu neste traço singular da natureza do amor: ser despertado
pelo olhar. A própria definição de “belo” que os antigos nos oferecem também
parte do olhar humano : quod visum placet: belo é aquilo que agrada ao
ser visto.
O Evangelho da
liturgia de hoje chama nossa atenção para a importância do olhar. Quase
poderíamos resumir assim sua mensagem: “dize-me para onde olhas e eu te direi
quem és...” Mesmo que tentemos ocultá-lo, nosso olhar é altamente revelador. Já
chamaram os olhos de “janelas da alma”. Com muita frequência, nosso olhar nos
trai, revelando aquilo que gostaríamos de manter oculto. É que o olhar denuncia
nossas preferências, deixa escapar nossos segredos...
Um exemplo
simples? Que tipo de programa eu vejo habitualmente na TV? Que espécie de filme
me atrai de modo especial? Guerras e conflitos? Romances e idílios? Intimidades
amorosas? Violência gratuita? Programa policial? Pois aí está uma “re-velação”
do meu íntimo. Uma retirada de véus que mal escondem nosso mundo interior.
No Evangelho
de hoje, quando Jesus passa junto ao Rio Jordão, dois discípulos (de João Batista)
fixam nele o seu olhar. Evidentemente, é o olhar de quem anda à procura do
encontro. O olhar profundo que manifesta a sede interior. E esse olhar acabará
sendo recompensado com o inesperado convite à intimidade, a oportunidade de conhecer
o lugar onde o Mestre mora: “Vinde ver!”
Hoje, no
meio de uma sociedade que contempla o mal, ainda existem fiéis apaixonados por
Jesus Cristo. Sabendo – e crendo! – que Jesus está presente no sacrário, nas
espécies consagradas, esses apaixonados se fazem adoradores. De olhos fixos no
Senhor, eles se quedam em silêncio prolongado, como quem se expõe à luz de um
sol espiritual para se encharcar no amor divino.
Em seu
último Documento publicado, como uma espécie de “último desejo”, o Papa João
Paulo II escrevia: “Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus presente
na Eucaristia, reparando com nossa fé e nosso amor os descuidos, os esquecimentos
e até os ultrajes que nosso Salvador deve sofrer em tantas partes do mundo.
Aprofundemos na adoração a nossa contemplação pessoal e comunitária,
servindo-nos também de subsídios de oração sempre marcados pela Palavra de Deus
e pela experiência de tantos místicos antigos e recentes”. (Mane Nobiscum,
Domine, 18.)
O Senhor
Jesus anda esperando por nossos olhares...
Orai sem cessar: “Os meus olhos estão sempre fixos no Senhor!” (Sl 25,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.

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