Fazer o bem no sábado? (Mc 3,1-6)
Hoje, a pergunta de Jesus seria sobre
o domingo: é permitido fazer o bem em dia de preceito? Ou o cumprimento literal
da lei deve deixar o homem em segundo plano? A criança atropelada deve voltar
ao hospital na segunda-feira porque o cirurgião folga no domingo? A mulher deve
fazer uma cesariana na sexta-feira porque o obstetra não pode esperar o parto
natural no fim-de-semana? Deixo de ir à missa porque tenho sobre a mesa uma
pilha de trabalhos acumulados?
Ora, Jesus
tem um argumento insuperável: o próprio Deus continua trabalhando (cf. Jo 5,17)
e dá o exemplo ao próprio Filho. É por isso que Jesus decide curar em pleno
sábado o homem “de mão seca”. Lembrar que a palavra “cirurgia” vem de “cheir” [mão] e “ergon” [trabalho]; isto é, a medicina era um “trabalho manual” e,
por isso mesmo, proibido no sábado judaico.
Santo
Hilário de Poitiers [ca. 315-367 d.C.], bispo, liturgo e viajante, fala do
permanente “trabalho” de Deus: “Na verdade, grandes são as obras do Senhor: ele
tem o céu nas mãos, ele fornece a luz ao sol e aos outros astros, dá
crescimento às plantas da terra, mantém o homem em vida. Sim, tudo existe e
permanece no céu e na terra pela vontade de Deus, o Pai. Tudo vem do Pai e tudo
existe para o Filho. De fato, ele é a cabeça e o princípio de tudo. Nele tudo
foi feito. É da plenitude nele contida que, segundo a iniciativa de seu eterno
poder, criou a seguir todas as coisas”.
Se Deus
resolvesse “descansar” no sábado (ou no domingo cristão) o Cosmo iria
desmoronar e voltaria ao primitivo caos. Deus permanece fazendo o bem dia a
dia, sem ficar preso ao calendário. O Bispo de Poitiers continua: “O próprio
Deus trabalha em dia de sábado? Certo que sim, pois de outro modo o céu
desapareceria, a luz do sol se extinguiria, a terra perderia consistência,
todos os frutos ficariam sem a seiva e a vida dos homens pereceria se, por
causa do sábado, a força constitutiva do universo cessasse de agir”.
Sim, Deus é
amor. Não existe melhor “definição” para a essência divina. E o Amor trabalha
sempre, incansável, estável, definitivo. O amor não folga, não tira férias, não
espera ocasiões especiais. O amor não é um sentimento adormecido, que se
manifesta eventualmente, mas é uma modalidade do ser. Mesmo que algum Poder
terreno venha a proibi-lo, o Amor estará disposto a quebrar normas e convenções
para realizar – aqui e agora – sua tarefa inadiável: continuar amando.
Assim viveu
Madre Teresa de Calcutá. Assim viveu Dom Bosco. Assim o Amor nos anime a viver...
Orai sem cessar: “O Senhor é santo em
todas as suas obras!”
(Sl 145,17)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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