O sábado foi feito para o homem... (Mc 2,23-28)
Os grandes
conglomerados, as empresas transnacionais, os barões da Bolsa de Valores não
suportam mais a ideia de perder um dia na semana para que o homem descanse. Não
admira que muitos ofícios e funções sejam transferidos para as máquinas: elas
não precisam de sábados; se quebrarem, trocam-se as peças; se fundirem, vão
para o lixo...
No tempo de
Jesus, em ambiente regido pela Lei Mosaica, o shabbat correspondia ao 7º dia da semana, quando o Criador havia
descansado (cf. Gn 2,2). Mas esta parada no trabalho (ainda hoje, em Israel, a
palavra shabbat é sinônimo de
“greve”) não atende às necessidades de Deus, pois o Criador não se cansa: é o
homem quem precisa de uma pausa semanal. Para quê? Para se recuperar... para
viver a família... para mostrar que não é escravo, mas exercitar a liberdade
dos filhos de Deus...
A primeira
interdição do sábado judaico dizia respeito aos trabalhos da colheita,
exatamente o gesto ocasional dos discípulos famintos que atravessavam um trigal
em dia de preceito. Acusados pelos observadores, são defendidos pelo Mestre com
este princípio admirável: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para
o sábado”.
Günther Dehn
[1882-1970] comenta: “Os adversários de Jesus devem ter visto aí uma espantosa
blasfêmia. Quem pode evocar um objetivo humano e terrestre quando se trata de
um sagrado mandamento divino? Jesus deve ter parecido um libertino que ousava
criticar os mandamentos de Deus ao sabor de suas próprias ideias ou
preferências. No entanto, estas palavras são verdadeiramente as de um piedoso israelita
que sabe que Deus é um Deus de salvação”.
Em pauta, o
legalismo de muitos religiosos: cumprir cegamente o que está escrito,
independentemente da situação humana. Este erro foi combatido por outro judeu,
o apóstolo Paulo de Tarso. “Paulo – prossegue Günther Dehn – viu essencialmente
na Lei o patrão severo e duro imposto aos homens por causa de seus pecados, e
que os mantém fortemente sob seu punho. Jesus reconhece também outro aspecto: a
Lei não é apenas dever e constrangimento, ela também é dom. O sábado fora dado
por Deus aos homens para sua salvação e, justamente por ser um dom, é permitido
usá-lo livremente. Dizer que o sábado é feito para o homem não significa fixar
arbitrariamente as leis de nossa vida, mas, antes, enquanto homem cumulado pela
livre graça de Deus, querer somente usar desta liberdade com gratidão e
humildade.”
Em tempo - e
antes de outras contestações -, Aquele que escreveu a Lei tem o direito de
reformá-la a qualquer momento. E esse humilde aprendiz de carpinteiro que
palmilhava as estradas da Palestina era, nada mais, nada menos, o próprio
Legislador dos princípios: o Verbo de Deus.
Orai sem cessar: “Quem ama a tua lei,
Senhor, tem muita paz!” (Sl 119,165)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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