sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

PALAVRA DE VIDA

 Aquele que o traiu... (Mc 3,13-19)

             Este Evangelho realmente faz pensar... Interrompendo a roda-viva de seu ministério, Jesus vai passar a noite inteira em oração, no silêncio da montanha. Ora, a montanha é lugar bíblico do encontro com Deus. Por certo, Jesus conversava com o Pai acerca da escolha que faria ao amanhecer, convocando os Doze como colunas de sua Igreja. E um deles foi Judas Iscariotes...
            Será que Deus se enganou? Será que o Filho ouviu mal as indicações do Pai? Teria havido um lamentável engano?
            Claro que não! Tal como Pedro, Tiago e João, os três apóstolos que deram a vida por seu Mestre, também Judas Iscariotes trazia esse mesmo potencial apostólico e a mesma missão evangelizadora. Por que, então, acabaria tragicamente como traidor? Mistério profundo! Nada que a mente humana possa avaliar com exatidão. Mistério, porém, que diz respeito a cada um de nós...
            Os exegetas acreditam que Judas Iscariotes fosse um dos dois ex-guerrilheiros (cf. “duas espadas”, Lc 2,38) que acompanhavam Jesus. Teria Judas a esperança de “usar” o prestígio e a força de Jesus para um projeto de libertação militar e social do povo judeu dominado pelos romanos? E teria sido dominado pela decepção quando Jesus demonstra claramente que seu “Reino” era de outra ordem?
            Em latim, o mesmo verbo “tradere” se traduz por “entregar” e “trair”. Ainda que Judas fosse venal e escravo do dinheiro (cf. Jo 12,6), convenhamos que 30 moedas – o preço de um escravo! – era muito pouco para mudá-lo em traidor de um Mestre que já demonstrara sua estatura sobre-humana em curas e milagres. Existe aí algo que ultrapassa nosso humano entendimento. O mistério permanece...
            Também nós temos sido testemunhas de grandes feitos do Senhor. Temos contemplado a ação surpreendente de sua Graça na vida dos santos. Temos admirado a fé de tantos mártires que testemunharam com o próprio sangue sua adesão a Cristo. Mesmo em nossa vida pessoal Deus tem demonstrado sua presença de forma admirável. Não bastam estes “sinais” para que nossa fidelidade permaneça até o fim?
            Em nota, a Bíblia de Navarra comenta: “A traição de um íntimo é muito mais dolorosa e cruel que a de um estranho, porque supõe uma falta de lealdade. Também a vida espiritual do cristão é verdadeira amizade com Cristo, por isso assenta sobre a lealdade, a honradez e a fidelidade à palavra dada”.
            Nos momentos difíceis, que nosso amor não desfaleça...

Orai sem cessar: “Senhor, não me deixes desviar de teus preceitos!” (Sl 119,10)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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