Saiu o semeador a semear... (Mc 4,1-20)
Quem é o semeador desta parábola? É
o próprio Jesus – responde Romano Guardini [1885-1968]. A semente? É a palavra
da Boa Nova. O campo? O coração do homem.
Assim, o mesmo Jesus que se
apresentara como pastor de ovelhas (Jo 10,11), como o noivo no casamento (Mt
25,1ss), como o samaritano cheio de misericórdia (Lc 10,30ss), identifica-se
agora como alguém que prepara sua plantação.
Notar que Jesus não perde tempo com
vocabulário técnico, não fala de hermenêuticas e parusias, não fala de
perícopes e arcanos teológicos. Ele é absolutamente simples: inspira-se nas
coisas mais concretas, mais palpáveis, ao alcance do povo, situações das quais
extrai lições às vezes inesperadas.
“Esta parábola é tão transparente –
comenta Guardini – que não há muita coisa diferente a explicar, ainda mais que
o próprio Jesus já a explicara. Se, porém, queremos meditá-la com proveito, devemos
extrair dela certos detalhes, fazer aproximações com a vida e ver o que tais
aproximações tornarão visível.
O mensageiro de Deus é um semeador e
o que ele traz é o grão da semente, algo vivo que pode criar raízes,
desenvolver-se, dar fruto. O que vem de Deus não é uma coisa acabada; ao
contrário, é um começo.
O grão pode ter formas muito
diversas. Pode ser uma frase em uma alocução ou em um livro, um acontecimento
alegre ou triste, a conduta de um homem ou a entonação de uma resposta. Esse
grão da semente pode assumir as formas mais variadas, até mesmo bizarras, às
vezes loucas. Trata-se, porém, de saber se o homem o recebe, se lhe dá lugar. Então,
alguma coisa começa a trabalhar: ela se desenvolve etapa por etapa.
Poder-se-ia dizer muitas coisas
semelhantes a estas, o que acabaria sempre voltando a explicar esta proposição
fundamental: as coisas de Deus não chegam com resultados prontos, mas como
começos cheios de vida; elas não formam um sistema rígido, mas se desenvolvem
ao crescerem de forma em forma.
Além disso, é preciso que o homem se
prepare para aquilo que virá, que o acolha e se comprometa com isso
perfeitamente. Então, a lógica da vida divina o conduzirá, etapa por etapa.”
Mais uma vez, aprendemos que a ação
de Deus em nossa vida não é algo reservado a um grupo de sábios iluminados,
como os pretensos “doutores da Lei”. O grupo dos apóstolos, as mulheres que
seguiam Jesus, o publicano que trepa na árvore para ver o Mestre – eis aí uma
amostra do pobre campo onde Deus lança sua semente.
Este campo, somos nós...
Orai sem cessar: “Deus mesmo
multiplicará as vossas sementes...” (2Cor 9,10)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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