Esse é meu irmão... (Mc 3,31-35)
Reconheçamos:
a marca registrada do filho é a obediência. Muito mais que os laços de sangue,
a verdadeira filiação se manifesta quando a vontade do Pai se coloca em
primeiro lugar. E não se trata de algum exercício penoso, um jugo insuportável,
uma condição que nos humilhe. É uma simples questão de amor. Amado pelo pai, o
filho responde ao amor com a mais amorosa das sujeições. Como poderia ser um
fardo pesado a obediência prestada à pessoa que nos demonstra amor?
É assim com
Jesus, o Filho do Pai. Sua entrega à Paixão e à morte no Calvário tem um objetivo:
“para que o mundo saiba que amo o meu Pai e ajo conforme o Pai me prescreveu”.
(Jo 14,31) Jesus não se cansa de afirmar sua “dependência” em relação ao Pai:
“O Filho não pode fazer nada por si mesmo, mas somente o que vê o Pai fazer;
pois o que o Pai faz, o Filho o faz igualmente.” (Jo 5,19) O grande elogio que
a Escritura faz a Jesus é que ele foi “obediente até a morte, e morte de cruz”.
(Fl 2,8)
Quando o
Filho de Deus se encarna, nascendo de Mulher, ele de certa maneira “re-aprende”
a ser filho em sua relação humana com Maria e com José. O Papa Leão XIII
realçou esta obediência humana de Jesus: “Daí se seguia, portanto, que o Verbo
de Deus fosse submisso a José, lhe obedecesse e lhe prestasse aquela honra e
aquela reverência que os filhos devem aos próprios pais.” Obedecendo ao humilde
José, seu pai nutrício, Jesus na verdade obedecia a seu Pai eterno.
Ora, se nós
pretendemos ser irmãos de Jesus, como o conseguiríamos sem obedecer ao mesmo
Pai celeste? Quando nos submetemos à Lei de Deus, a seus mandamentos, mas
também quando obedecemos à voz de Deus que fala por meio da Igreja e de seus
ensinamentos, Jesus pode olhar para nós e nos reconhecer como irmãos.
Eis o que
diz Santo Agostinho: “Será o amor que leva a observar os preceitos ou a
observação dos preceitos é que leva ao amor? Mas quem duvida que o amor venha
primeiro? Aquele que não ama não consegue observar os preceitos. Assim, ao
dizer: ‘se observais meus mandamentos, permanecereis no meu amor’ (Jo 15,10),
Jesus mostra não de onde vem o amor, mas aquilo que o prova. É como se ele
dissesse: não pensem que vocês permanecem no meu amor, se não observam meus
mandamentos, pois se vocês os observam, esta seria a prova de que nele
permaneceis”.
A lição é
clara: quem ama, obedece. Quem se rebela, recusa automaticamente a sua
filiação. Quem obedece, este é filho. Sendo filhos, seremos irmãos do Senhor. E
ele poderá olhar para nós, sorrir e afirmar: “Esse é meu irmão!”
Orai sem cessar: “Eis-me aqui, ó Pai, para fazer a tua vontade!” (Hb 10,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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