O Reino está próximo... (Mt 4,12-17.23-25)
Este
Evangelho costuma dar espaço a um equívoco muito comum. Quando se ouve Jesus
anunciar que o Reino está “próximo”, quase sempre este adjetivo é traduzido
como “próximo no tempo”, isto é, o Reino “não tarda a chegar”.
Ora, o Reino já chegou. O Reino de
Deus – ou seja, aquele espaço onde a vontade do Pai é plenamente obedecida e
realizada – é uma Pessoa: trata-se do próprio Jesus. Assim, dizer que o Reino
“está próximo” significa declarar que Jesus está no meio de nós e, por isso
mesmo, bem ao nosso alcance. Trata-se de uma proximidade geográfica. Basta
estender a mão para o tocar...
Sim, Aquele com quem os patriarcas
sonharam pelas noites estreladas, Aquele que os profetas do passado anunciaram
– ei-lo agora em nossas estradas, em nossas praças, em nossas esquinas.
Nicodemos pode falar com ele na escuridão da noite. A samaritana pode vê-lo,
suado e faminto, à beira do poço de Jacó. A hemorroíssa pode aproximar-se e
tocar seu manto para ser curada. A pecadora pode lavar-lhe os pés com suas
lágrimas abençoadas. Sim, Ele está no meio de nós...
Os teólogos gostam de dizer que, em
Jesus Cristo, o Deus transcendente (isto é, fora de nosso alcance) se fez
imanente (entrou na história e no espaço dos homens). Em outros termos, Deus
“baixou”! Era Deus e, descendo, fez-se homem. Desce mais e se faz servo,
lavando os pés dos discípulos. Desce mais e aceita ser tratado como escravo ao
morrer na cruz (suplício proibido a um cidadão romano, como o apóstolo Paulo,
morto pela espada). Jesus continua sua descida, baixando da cruz ao túmulo,
como qualquer mortal.
Pois o Senhor não acaba de descer.
Após sua morte, desce à mansão dos mortos (cf. 1Pd 3,19; 4,6) para
anunciar-lhes a Boa Nova e permitir a sua adesão. Enfim, como se não bastasse
todo esse rebaixamento – sua kênosis
ou despojamento (cf. Fl 2,6-8) –, Jesus Cristo ainda desce em cada Eucaristia:
ali no altar, na forma humilde de massa de pão, faz-se nosso alimento de
caminhada.
Depois de tudo isso, é hora de
abandonar a visão de um cristianismo em forma de subida ou escalada, galgando
heroicamente os cumes da santidade. Não somos super-heróis! Não somos atletas
de Cristo! Deus desceu. Está próximo. Identifica-se com todo aquele que sofre
em sua humana condição: o faminto e o sedento, o presidiário e o enfermo, o que
não tem roupa nem casa.
Esta é de fato uma Boa Nova. Deus se
faz próximo. Não se oculta além das galáxias. Basta estender a mão e o
encontraremos
Você estenderá a sua?
Orai sem cessar: “Mas vós, Senhor, estais bem perto!” (Sl 119,151)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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