Pela tua palavra... (Lc 5,12-16)
Antigamente,
ouvia-se aqui e ali a expressão “homem de palavra”. Era um elogio. Dizer de
alguém que era um homem “de palavra” significava que ele era confiável, merecia
crédito, não quebraria uma promessa ou juramento. Velhos tempos, quando não era
necessário produzir um documento, assinar uma nota promissória ou conseguir
avalistas na hora de realizar um negócio ou transação comercial. Valia a
palavra!
Neste
Evangelho, temos uma situação semelhante. Após uma noite inteira de pesca
infrutífera, aqueles experimentados pescadores aceitam lançar novamente as
redes apenas “por causa de tua palavra”, isto é, da ordem de Jesus. Se levarmos
em conta que Jesus fora aprendiz de carpinteiro e, por isso mesmo, não dominava
os segredos da pescaria, devemos admirar a prontidão de Pedro e seus
companheiros em obedecer a essa ordem.
Claro, a
nova tentativa dos pescadores foi além de toda expectativa: duas barcas
atulhadas de peixes, ameaçando adernar. Será que Jesus também era um “homem de
palavra”? Não. Era muito mais: ele era a PALAVRA, o Verbo de Deus, o Logos
divino que veio ao mundo para nos falar do Pai.
No hebraico
da Sagrada Escritura, surge com frequência o termo “dabar”, que se traduz simultaneamente como “palavra” e como
“acontecimento”. Ou seja, quando se trata da Palavra de Deus, ela é ao mesmo
tempo algo que se fala e algo que acontece. Em Deus, falar é acontecer.
Não admira,
pois, que o profeta Isaías nos tenha passado este discurso de Deus: “Como a
chuva e a neve que caem do céu e para lá não voltam sem antes molhar a terra e
fazê-la germinar, assim também acontece com a minha palavra: ela sai da minha
boca e para mim não volta sem produzir seu resultado, sem fazer aquilo que
planejei, sem cumprir com sucesso a minha missão”. (Is 55,10-11)
A
experiência dos pescadores da Galileia deveria animar-nos a confiar na palavra
de Deus, a apostar em suas promessas, a correr riscos sem nenhuma outra
garantia a não ser o próprio Jesus, palavra encarnada do Pai.
Nós somos
privilegiados pela forma como a palavra de Deus nos tem sido dirigida: clara,
insistente, amplificada pelos novos meios de comunicação, refletida e
esclarecida pelo magistério da Igreja. Trata-se de um anúncio que nos
privilegia, mas também nos responsabiliza. Não poderemos alegar, como tantos
dizem: “Eu não sabia”...
Não me
esqueço dos presidiários que começavam a participar dos encontros de
evangelização e, em pouco tempo, comentavam: “Se eu tivesse ouvido isto antes,
não estaria aqui”. Nós ouvimos...
Orai sem cessar: “A tua palavra me faz
viver!” (Sl 119,50)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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