Que ele cresça, e eu diminua... (Jo 3,22-30)
Admirável a postura de João Batista!
Logo ele, o maior entre os nascidos de mulher (cf. Mt 11,11), cheio do Espírito
Santo desde a vida pré-natal (cf. Lc 1,41.44), sabe assumir uma atitude de
“apagamento” diante de Jesus, o Filho do Pai...
Esta frase do Precursor – “Importa
que ele cresça, e eu diminua...” – é exatamente o dístico escolhido por
Matthias Grünewald para sua estranha “Crucifixão”, o painel onde João
Batista, em intencional anacronismo, é postado de pé, ao lado da cruz, livro
aberto em punho, com o enorme indicador apontado para o Cordeiro, a Vítima de
Deus, que tira o pecado do mundo.
Creio que se trata de uma lição de grande atualidade para todos nós.
Nestes tempos em que pretensos evangelizadores ocupam o lugar central do palco,
sob luzes e spots, reduzindo a pessoa de Jesus a mero pretexto para
capturar recursos e faturar audiência, João nos ensina a ficar na sombra, abrir
caminho para o Senhor, nivelar suas veredas e, a seguir, “perder a cabeça” e sair
de cena.
A lição vale também para nós, católicos, alertando párocos e agentes de
pastoral para a necessidade de sair da frente de Jesus e deixar que o povo
tenha livre acesso ao Salvador, sem ficar preso e dependente de suas mediações
humanas. Evangelização e show estão em polos opostos, garante-nos o
humilde Batizador. Com raras – e pouco duráveis! – exceções, o Evangelho não
registra aplausos para a obra missionária; antes, vê-se a recusa, a oposição e
os gritos de “crucifica-o!”
O evangelizador autêntico é uma pessoa preparada para o fracasso,
disposta à exclusão, pronta para o sacrifício. Esta é a “hora” (cf. Jo 12,27b)
ansiada pelo evangelizador, quando todas as potências do mundo se erguem para
abafar sua voz e, cada vez com mais frequencia, sufocar-lhe a vida. Se chegar a
este ponto, terá a confirmação de que foi fiel à sua missão...
Daí o risco de assumirmos a visão
triunfalista – “somos mais que vencedores...” – que cairá por terra diante das
primeiras dificuldades. Nosso Salvador só é vitorioso depois da morte. O
evangelizador que não passa pela morte pessoal ainda não cumpriu sua tarefa no
mundo.
Na primeira metade do Séc. XX, dois
missionários italianos, padres de Bétharram, tomaram um navio para o Oriente.
Após longa e insegura viagem, chegaram à China. Seguiu-se uma penosa jornada
por ferrovia. A seguir, em lombo de burro, um escarpado roteiro pelas montanhas
em direção à Província do Yu-nan. Com o atraso da viagem, começou a estação das
chuvas e os rios subiram. Mesmo assim, os dois missionários tentaram a
atravessar a correnteza e morreram afogados. Foi assim que cumpriram sua
missão: dando a vida por Cristo. Um deles era irmão de meu ex-professor Pe.
André Antonini.
Orai sem cessar: “Não a nós, Senhor, mas
ao teu Nome dá glória!” (Sl 115,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário