Os
espíritos impuros lhe obedecem... (Mc 1,21-28)
Desde Isaías 61, Israel sabia que o
Messias prometido seria um libertador, quebrando as cadeias dos cativos. Em seu
primeiro sermão, na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4), Jesus toma para si esta
profecia e a atualiza. Se Jesus não libertasse os oprimidos dos maus espíritos,
não seria ele o verdadeiro Messias.
Neste Evangelho, o público reunido
na sinagoga de Cafarnaum mostra-se maravilhado pelo poder espiritual
demonstrado por Jesus diante dos olhos de todos: “os espíritos lhe obedecem”...
Mais que a escravidão diante de
feitores ou de exércitos inimigos, a escravidão espiritual retira do homem a
capacidade de fazer o bem. Apesar da onda racionalista que hoje nega a
existência de demônios, foi contra eles (não contra César nem contra os donos
do Templo) que Jesus combateu a principal batalha: “Agora o príncipe deste
mundo será expulso!” (Jo 12,31)
Macário, o Grande [300-390 d.C.],
fala sobre este combate do qual ninguém escapa: “Que ninguém diga: ‘para mim, é
impossível amar o único Bem, pensar nele ou nele crer, porque me encontro sob a
escravidão e sob os vínculos do pecado’. De fato, o poder de exercer
perfeitamente as obras de vida, de te arrancares do pecado que habita em ti (cf.
Rm 7,17) e te libertares por tuas próprias forças, isto não está em teu poder,
pois o Senhor o reservou para si. Somente ele, de fato, condenou o pecado (cf.
Rm 8,3), ele somente é aquele que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29), foi ele
quem prometeu libertar da escravidão do pecado e das paixões aqueles que o amam
e nele creem. E aqueles que ele liberta são verdadeiramente livres.
Mas refletir, crer, amar o Senhor ou
procurar por ele, isto depende de ti, e és capaz disto, assim como de não
entrar em acordo com o pecado que habita em ti, nem colaborar com ele. Só tu
mesmo te tornas a oportunidade de tua própria vida, buscando pelo Senhor,
pensando nele, amando-o e ouvindo-o, e ele te concederá a força e a libertação.
A alma que caiu sob a servidão e a autoridade
das trevas das paixões pecaminosas é oprimido pela febre da lei do pecado; esta
alma fica imobilizada e inibida em relação às obras de vida, as virtudes
perfeitas do Espírito, pois é incapaz de cumpri-las de modo irrepreensível, mas
nada a impede de gritar pelo único médico, de chamar por seu socorro, de
esperar pela saúde.
Deus não espera dos homens nada
mais que esta oportunidade, pois o poder de fortalecer a alma, de curá-la da
febre do pecado e arrancá-la da tirania e da influência das paixões, esse poder
pertence a Deus, a ele só foi reservado. É ele que o fará prontamente, conforme
está escrito: ‘Ele fará justiça àqueles que clamam por ele noite e dia”. (Lc
18,7)
Orai sem cessar: “O
Senhor libertará o pobre que o invoca!” (Sl 72,12)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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