Ele
recebeu-o nos braços... (Lc 2,22-40)
Na festa da Apresentação do Senhor,
o Velho Simeão representa com fidelidade aquela fatia do povo da Primeira
Aliança que, como sentinela sobre a muralha, na profunda escuridão da noite
humana, atravessara os séculos em atenta vigília, à espera do Messias
prometido. Os ícones da Igreja do Oriente mostram o Menino todo luminoso nas
mãos de Simeão, que tem os olhos fitos nos olhos Menino, a ponto de se poder
traçar entre eles uma linha reta.
Como pano de fundo, a frase de seu
Cântico, o “Nunc Dimittis”: “Meus
olhos viram a tua salvação”. Cumprida a promessa de Deus, tendo já testemunhado
a fidelidade de Deus, Simeão canta: “Agora,
Senhor, podes despedir em paz o teu servo!” Isto é, já posso morrer, pois
vivi o momento-chave de minha vida.
Por isso mesmo, ao presenciar a
chegada de José e de Maria, que traziam o Menino para sua apresentação no
Templo do Senhor, Simeão estende prontamente os braços no gesto de acolhida.
Este ancião é a imagem daqueles que, movidos pela Graça de Deus, abrem a Jesus
a alma e o coração, tomando-o como centro e motivo de sua existência.
Mas permanece atual o grande
mistério da recusa do Cristo. São ainda numerosos aqueles que não se abrem ao
oferecimento gratuito de salvação, na pessoa de Jesus. Tal como no tempo de
Cristo, quando muitos de seus contemporâneos o recusaram, em especial aqueles
que teriam algo a perder – política ou financeiramente –com a adesão ao Mestre
de Nazaré, também hoje há pessoas e grupos de coração empedernido, que movem
contra Cristo e sua Igreja a mais feroz oposição.
Deixando de lado a hipótese de
uma opção consciente pelo Anticristo, a atitude desse exército inimigo pode ser
entendida como uma espécie de reação de defesa, apegados que estão a projetos e
ideais que nascem da ambição e do ódio, da concupiscência e da luxúria, da
ganância e do hedonismo pagão. Para eles, o Mártir do Calvário será sempre uma
permanente ameaça. Por isso guerreiam contra Ele, pensando com isso preservar
sua liberdade e sua autonomia.
Nada diferente do pecado das
origens, quando o primeiro casal acatou a sugestão monstruosa de decidir, por
conta própria, o que era o bem e o que era o mal... A mesma soberba, a mesma
rebeldia.
Enquanto isso, o Velho Simeão abraça
o Menino, sabendo que nele está a sua razão de viver...
E nós? Pressionados pelo cerco de um
mundo neopagão, também temos em Jesus nossa razão de viver?
Orai sem cessar: “Para teu servo, realiza tuas ordens!” (Sl 119,38)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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