Cultivar e guardar... (Gn 2,4b-9.15-17)
Eis aí, em dois verbos, a síntese da
missão do homem enquanto gerente da Criação. Ao cultivar o cosmo, ele gera a
cultura. Ao guardar a natureza criada, conserva e perpetua o dom recebido.
Uma visada panorâmica da história
humana ao longo dos séculos logo manifesta a evolução cultural realizada pelo
homem, ainda que ambígua: lado a lado, a enxada e a espada, o trator e a ogiva
nuclear, a penicilina e a pólvora. Dividida entre impulsos de vida e de morte,
a criatura humana é capaz, simultaneamente, de multiplicar a vida e de decretar
o seu aniquilamento.
Na Encíclica “Laborem Exercens”
[1981], sobre o trabalho humano, o saudoso Papa João Paulo II, que vivenciara
pessoalmente a condição de operário, nos ensinava que o trabalho humano
contribui para a glória de Deus.
“Efetivamente, o homem, criado à
imagem de Deus, recebeu a missão de submeter a si a terra e tudo o que ela
contém, de governar o mundo na justiça e na santidade e, reconhecendo Deus como
o Criador de todas as coisas, de se orientar a si e ao universo todo para ele,
de maneira que, estando tudo subordinado ao homem, o nome de Deus seja
glorificado em toda a terra.” (LE, 25.)
De certo modo, é como se o trabalho
do Criador tivesse sido executado até certo ponto e deixado em suspenso, para
que o homem lhe desse continuidade. A obra iniciada por Deus contém
virtualidades que só o homem pode levar à consumação. Por isso mesmo, João
Paulo II prosseguia:
“A consciência de que o trabalho
humano é uma participação na obra de Deus, deve impregnar – como ensina o
recente Concílio – também as atividades de todos os dias. Assim, os homens e as
mulheres que, ao ganharem o sustento para si e para suas famílias, exercem suas
atividades de maneira a bem servir a sociedade, têm razão para considerar o seu
trabalho um prolongamento da obra do Criador, um serviço aos seus irmãos e uma
contribuição pessoal para a realização do plano providencial de Deus na
história.” (Carta Encíclica Laborem Exercens, 25.)
Esta é a visão cristã do trabalho.
Ao contrário do pensaram muitas gerações, longe de ser humilhante estigma de
escravos, o trabalho enobrece e dignifica o homem. Graças ao trabalho, sempre
teremos algo a oferecer no altar de cada Eucaristia: os frutos da terra e do
trabalho do homem... Em cada missa, em cada Eucaristia, o pão e o vinho levados
ao altar reafirmam nossa consciência de coautores da Criação.
Orai sem cessar: “Poderás viver do trabalho de
tuas mãos.” (Sl
128,2)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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