Não é bom... (Gn 2,18-25)
Conforme narra o Livro do Gênesis, a
cada passo da criação, o Deus “poeta” contemplava sua obra e via que tudo
era bom. Foi assim com a luz primordial. Foi assim com a água generosa e
com a terra fértil. Fora assim também com os vegetais e os animais que se
multiplicaram sobre o planeta.
Ao criar o homem, porém, Deus
contemplou Adão e disse: “Não é bom... que o homem esteja só!” (Gn 2,18.)
No seio da Trindade, as três Pessoas divinas viviam em família. Ora, criado à
imagem de Deus, o homem não fora chamado à solidão. Daí a criação da mulher, na
delicada imagem do Gênesis, quando ela é extraída “do lado do homem”, bem junto
ao coração. E o jubiloso espanto de Adão: “Osso de meus ossos, carne de minha
carne” – ao contemplar, pela primeira vez na Criação, a presença de um ser – o
único! - com o qual podia entrar em comunhão.
No matrimônio, homem e mulher
realizam uma profunda fusão de suas pessoas, definitiva, indissolúvel. Se, por
infelicidade, vêm a separar-se, eles experimentam uma espécie de amputação do
próprio ser. Como nos versos de Chico Buarque: “Ó metade amputada de mim!...”
Além de receber o sopro vital, o
investimento da vida divina (cf. Gn 2,7), o ser humano recebeu do Criador as
sementes de vida que permitiriam a fecundação e a propagação do gênero humano
ao longo dos séculos. Nas palavras de João Paulo II, “com a criação do homem e
da mulher à sua imagem e semelhança, Deus coroa e leva à perfeição a obra de
suas mãos: Ele chama-os a uma participação especial do seu amor e do seu poder
de Criador e de Pai, mediante uma cooperação livre e responsável deles na
transmissão do dom da vida humana: Deus abençoou-os e disse-lhes: ‘crescei e
multiplicai-vos, enchei e dominai a terra’”. (Familiaris Consortio, 28.)
Hoje, caminhamos na contramão. Neste
início de milênio, os estudiosos da demografia já identificaram uma sensível
redução na capacidade procriadora dos homens. A curva populacional é
descendente em vastas regiões do planeta. Ao mesmo tempo, a indústria do aborto
motiva e financia uma legislação assassina que resulta em milhões de vidas
lançadas no lixo. Enquanto isso, Madre Teresa de Calcutá profetizava: “O mundo
não terá a paz enquanto tantos abortos forem cometidos”.
Se a solidão humana não é algo bom,
também não é bom que o amor entre homem e mulher seja desviado de sua função
mais nobre, a geração da vida. Aliás, o que está em jogo é o futuro da
humanidade.
Orai sem cessar:“Os filhos são um dom de Deus.” (Sl 127,3)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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