Tive medo... (Gn 3,9-24)
Antes do pecado, soberba e ousadia,
curiosidade e orgulho. Depois do pecado, medo. Assim somos nós...
O medo brota da consciência de ter
ultrapassado um limiar que não nos era permitido. Desde a mitologia clássica,
multiplicam-se os tristes “heróis” que ousaram desafiar o Olimpo – como
Prometeu – ou a própria limitação humana – como Ícaro. No caso de Adão, porém,
o medo é mais profundo: ele teme ter perdido a afeição do Criador, sua fonte de
vida. Por isso Adão se esconde...
Não posso deixar de ver no seu
comportamento um traço de infantilidade. De fato, em termos ontológicos, a
“criatura” era ainda uma “criança”. Recém-criado, não tivera ainda o tempo de
amadurecer, crescer na sua própria experiência de vida e – claro – crescer na
relação com seu Criador. É comum que um dom só seja valorizado depois que foi
perdido. “Eu era feliz, e não sabia...”
Agora, Adão se esconde. E se
justifica:
- Tive medo.
- Medo, Adão?! Medo de mim, que
chamei você à vida? Medo de mim, que sou a sua fonte? Medo de mim, que sou o
Amor?
Não sejamos cruéis com nossos
primeiros pais. Teríamos feito igual ou pior. Também dentro de nós ainda
oculta-se a resistência ao amor infinito sem o qual sequer teríamos chegado a
existir. Ainda hesitamos em viver para o Amor. Em nos abandonar às mãos
amorosas de um Pai (sabemos disso agora, em tempos de Nova Aliança). Ainda
tememos um falso Deus que imaginamos áspero juiz ou ríspido policial, indiferente
mecânico das engrenagens celestes ou sádico sacrificador sedento de sangue.
Não fora assim, como explicar os
crânios humanos que cobriam as pirâmides escalonadas da América Central? Como
explicar que mães sacrifiquem seus filhos em rituais satânicos? Como explicar
que o nome de Deus seja usado para lançar mísseis contra os inimigos?
No Brasil de hoje, uma das
principais reivindicações da sociedade diz respeito à segurança. O medo
subjacente manifesta-se de modo concreto nos altos muros, nas barreiras de
arame farpado, nas cercas elétricas, nos portões eletrônicos. Somos reféns do
medo. Quando, porém, tomaremos consciência de só existe um antídoto para o
medo: o amor de Deus?
Deus é amor. E o amor afasta o
temor. No coração do Novo Testamento, uma palavrinha aramaica, exclusiva da
linguagem infantil, garante-nos que nosso Deus é “abbá”: paizinho, papai
querido. Já não há o que temer...
Orai sem cessar:“Cantai ao nosso Deus, porque ele
é amável!” (Sl
147,1)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:
Postar um comentário