Levantou-se e o seguiu... (Lc 5,27-32)
É
notável como o Evangelho registra a súbita conversão de um pecador com tal
economia de palavras. Um fato que permitiria muitas páginas úmidas de emoção é
narrado com a máxima simplicidade. Trata-se da ação de Deus...
Não
foi tanto com os olhos do corpo, mas com o olhar interior de seu amor que Jesus
viu Mateus em sua banca de cobrador de impostos, observa Beda, o Venerável
[+735]. O santo monge continua sua reflexão:
“Ele
viu o publicano, amou-o, escolheu-o e lhe disse: ‘Segue-me!’ – quer dizer,
imita-me. Ao pedir que o seguisse, Jesus convidava menos a caminhar após ele do
que a viver como ele, ‘pois aquele que diz permanecer no Cristo deve também
viver como Ele mesmo viveu’ (1Jo 2,6).
‘Mateus
se levantou e o seguiu.’ Nada de espantoso que o publicano, ao primeiro chamado
imperioso do Senhor, tenha abandonado sua busca de lucros terrestres e,
desprezando os bens temporais, tenha aderido àquele que ele via desembaraçado
de toda riqueza. É que o Senhor, que o chamava do exterior por sua palavra,
tocava-o no mais íntimo de sua alma e ali derramava a luz da graça espiritual
para que o seguisse.
‘Como
Jesus estivesse à mesa, em casa, numerosos publicanos e pecadores assentaram-se
com ele e seus discípulos.’ A conversão de um único publicano abriu o caminho
da penitência e do perdão a muitos publicanos e pecadores... Na verdade, um
belo presságio! Aquele que deveria ser, mais tarde, apóstolo e doutor entre os
pagãos, arrasta atrás de si, quando de sua conversão, os pecadores ao caminho
da salvação. E este ministério, que iria desempenhar após haver progredido na
virtude, ele o assume desde os primeiros inícios de sua fé...
Tentemos
compreender mais profundamente o acontecimento aqui relatado. Mateus não apenas
ofereceu ao Senhor um banquete corporal em sua morada terrestre, mas, bem mais
que isso, ele preparou um festim na casa de seu coração, por sua fé e seu amor,
como testemunha aquele que diz: ‘Eis que estou à porta e bato; se alguém ouve a
minha voz e abre, eu entrarei em sua casa e ceremos, eu com ele e ele comigo’.
(Ap 3,20.)
Sim,
o Senhor está à porta e bate quando ele torna nosso coração atento à sua
palavra, seja pela boca do homem que ensina, seja por uma inspiração interior.
Nós abrimos a porta ao chamado de sua voz quando damos livre assentimento a
suas advertências interiores ou exteriores, e quando pomos em prática aquilo
que compreendemos que devíamos fazer.”
Hoje,
Cristo continua chamando. O mesmo Cristo que se assentava com os pecadores. Ele
insiste em bater à porta...
Orai sem cessar: “Senhor,
seguir-te-ei aonde fores!” (Lc
9,57)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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