Arrependei-vos!
(Mc 1,12-15)
Curioso como a expressão “Reino dos
Céus”, que aparece na pregação de João Batista e reaparece na de Jesus Cristo,
tem sido associada a tanta coisa diferente. Quando se fala nesse Reino, alguns
pensam na Igreja aqui na terra, dominante e gloriosa; outros imaginam um
planeta pós-revolução, onde os tiranos já foram eliminados e o povo divide
pacificamente suas colheitas. É raro, porém, que esse Reino seja associado a...
conversão!
No entanto, a associação estava
clara nas duas pregações acima citadas: o Reino está próximo, então... arrependei-vos!
Entre os que perceberam esta ligação, está Cesário de Arles [470-543 d.C.]:
“O Reino dos céus é Cristo que –
temos certeza disso – conhece os atos bons e maus e julga todos os motivos de
nossos atos. Também precisamos antecipar-nos a Deus, confessando nossas faltas,
e reprimir todos os desregramentos da alma antes do julgamento. Nós nos expomos
ao perigo se não sabemos qual é o tratamento a seguir para a cura do pecado.
Devemos arrepender-nos antes de tudo porque sabemos que prestaremos conta das
razões de nossos erros.
Vejam, irmãos bem-amados, como é
grande a bondade de Deus para conosco, tão grande que ele quer perdoar o pecado
de quem se reconhece culpado e o repara antes do juízo. Ele, o justo Juiz,
sempre faz preceder o julgamento por uma advertência, para jamais ter de
exercer uma justiça severa. Se Deus quer tirar de nós um rio de lágrimas, não é
sem motivo, irmãos bem-amados, mas para que possamos recuperar pelo
arrependimento aquilo que havíamos perdido por negligência.
Nosso Deus sabe que o homem não tem
sempre uma vontade reta, e que ele pode muitas vezes pecar em sua carne ou
cometer desvios de linguagem. E também nos ensinou o caminho do arrependimento,
pelo qual podemos reparar os prejuízos que causamos e corrigir-nos de nossas
faltas. Para estarmos seguros de obter-lhe o perdão, jamais devemos cessar de
lamentar nossos pecados.
Por mais fragilizada que esteja a
natureza humana, em razão de tantas feridas, ninguém deve desesperar, pois o
Senhor é de uma generosidade tão grande, que ele distribui sem reserva os dons
de sua misericórdia sobre todos que já estão sem forças.
Que ninguém os desvie, meus
bem-amados, pois a pior espécie de pecado consiste em não perceber os próprios
pecados. Enquanto todos os que reconhecem suas faltas podem reconciliar-se com
Deus ao se arrependerem, nenhum pecado merece mais a nossa piedade que aquele
que acredita nada ter a se reprovar.”
Uma lição simples e clara. Como
disse o sambista, “perdão foi feito pra gente pedir”. Só o orgulhoso se
condena...
Orai sem cessar:“No teu grande
amor, cancela o meu pecado!” (Sl
50,3)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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