Para serdes filhos... (Mt 5,43-48)
Deus é amor (1Jo 4,16b). Esta é a
definição que nos foi transmitida pelo discípulo amado. Em Deus não habita o ódio
nem se aninham projetos de vingança. Jesus Cristo, o Filho de Deus, do alto de
sua cruz implorava ao Pai por seus algozes: “Pai, perdoai-lhes; eles não sabem
o que fazem!” (Lc 23,34.) E o primeiro mártir da Igreja, o diácono Estêvão,
enquanto sofria o apedrejamento, intercedia por seus assassinos: “Senhor, não
lhes leves em conta este pecado!” (At 7,60.)
Naturalmente, quando há rixas e
disputas entre os filhos, os pais sofrem com isso. A Bíblia está cheia de
exemplos de tais sofrimentos. Adão e Eva diante do homicídio de Abel cometido
pelo irmão Caim. Isaac e Rebeca perante a hostilidade entre Esaú e Jacó. O Rei
Davi, vendo a filha Tamar violada pelo meio-irmão Amnon e, a seguir, a vingança
de Absalão, que assassina o meio-irmão Amnon. É uma dor incalculável assistir
ao ódio entre os próprios filhos...
Ora, nosso Deus é Pai de todos nós.
Se alimentamos ódio uns contra os outros, ferimos o coração do Pai. Daí a frase
de Jesus: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para serdes
filhos de vosso Pai que está nos céus...” Trata-se, pois, de uma condição essencial
para manter com Deus a nossa relação filial.
Quando Davi recebeu a notícia de que
seu filho rebelde, Absalão, fora morto, o Rei se lamentou: “Meu filho, Absalão,
meu filho, meu filho! Por que não morri eu em teu lugar?” (2Sm 19,1.) Ora, O
Pai foi muito além: entregou-nos seu Filho, Jesus, que morreu em nosso lugar.
Depois disso, já não há ofensa tão grande que não devamos perdoar... O sangue
de Jesus clama pelo perdão entre os filhos de Deus.
Claro, a simples ideia de “perdão” é
estranha ao mundo pagão. Em artigo na Folha
de S.P. (02/02/06), Contardo Calligaris escrevia: “A Igreja Católica,
quando instituiu o arrependimento e a penitência como condições da confissão,
inventou um dispositivo extraordinariamente permissivo. Posso pecar quanto eu
quiser, pois já me arrependo, sinto-me culpado, sofro e meu sofrimento me
remirá”.
Notável incapacidade (ignorância?)
do pagão em ter acesso à misericórdia! Não é o nosso sofrimento que nos vai
remir, mas o sofrimento de Cristo na cruz é que nos garantiu (antecipadamente,
sim!) o perdão do Pai. Um sacramento do perdão nos foi dado por Deus (não é
invenção da Igreja!) para tornar possível a reconciliação não só com o Pai, mas
também entre os irmãos.
Afinal, ainda somos filhos?
Orai sem cessar: “Ao Senhor pertence
a misericórdia e o perdão.” (Dn
9,9)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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