E dar a sua vida... (Mt 20,17-28)
O amor é assim. Vive para morrer.
Morre para que o outro viva. E acha o seu sentido profundo quando gasta a vida
pelo bem do outro. Jesus assevera: “Ninguém tem maior amor do que quem dá a
vida por seu amigo.” (Jo 15,13.) As hipóteses freudianas sobre o homem divergem
da mensagem do Evangelho: pregam a afirmação de si mesmo, a busca de realização
pessoal, a recusa de toda ascese, o abandono às próprias inclinações e a
repulsa por todo sacrifício.
Claro: Freud e o Evangelho são
antípodas... E desde que sua psicologia se vulgarizou, infiltrando-se na
sociedade do Ocidente, foi minguando e se exaurindo a nossa capacidade de
doação, a disposição para o altruísmo, a experiência de uma vida centrada no Outro.
Sempre mais egoístas, roubamos do amor seu sopro de eternidade para viver com
mesquinhez as realidades terrestres.
Em sua Encíclica “Deus é amor” [Deus
caritas est], o Papa Bento XVI escreve: “A verdadeira novidade do Novo
Testamento não reside em novas ideias, mas na própria figura de Cristo, que dá
carne e sangue aos conceitos – um incrível realismo. [...] Na sua morte de
cruz, cumpre-se aquele virar-se de Deus contra si próprio, com o qual Ele se
entrega para levantar o homem e salvá-lo – o amor na sua forma mais radical. O
olhar fixo no lado transpassado de Cristo, de que fala João (cf. 19,37),
compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta Encíclica: “Deus é
amor” (1Jo 4,8). É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá,
pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o
cristão encontra o caminho do seu viver e amar.” (DCE, 12.)
Coerente, Jesus vive o que ensinou.
Humilde, entrega-se à morte ignominiosa, entre dois malfeitores, remindo com
seu sangue a humanidade decaída. João resume o sentido de sua entrega: “Tanto
Deus amou o mundo, que lhe entregou seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16.) Os mártires
testemunham que esse amor é possível. Tendo provado o amor eterno – experiência
totalizante que a tudo relativiza – entregam sua vida alegremente, entre
cânticos de louvor, enquanto pedem a Deus que seja clemente com seus algozes.
Há martírios em nossas vidas. A mãe
sofre os incômodos da gravidez e as dores do parto para gerar vida nova. O pai
tem as mãos calejadas para sustentar a família. O médico se expõe ao contágio
para cuidar dos enfermos. A mestra se sacrifica pelos alunos. E tanta gente
simples valoriza amigos e vizinhos, acolhe o migrante que passa... São todos
eles um Evangelho vivo. Dão a vida e sabem servir...
Orai sem cessar: “Se morrermos com Cristo, com ele
viveremos.” (2Tm
2,11)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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