Saiu
para um lugar deserto... (Mc 1,29-39)
Imerso em intensa vida missionária,
Jesus acha tempo para rezar. Sujeito a intensa pressão, solicitado pela multidão,
dividido entre amigos (os discípulos), inimigos (fariseus, saduceus, homens do
Templo) e necessitados (cegos, surdos, paralíticos, enfermos...), Jesus procura
o Pai no silêncio.
Bastaria o exemplo do Mestre para
que não caíssemos na armadilha de uma vida hiperativa sem o correspondente
equilíbrio da vida orante. Na prática, porém, quantos fracassos devidos ao
excesso de confiança em si mesmo e à falta de apoio na graça de Deus! De modo
geral, a figura de um fiel dedicado à oração – exatamente porque conta acima de
tudo com as luzes e as forças de Deus - costuma ser tomada como imagem de fuga
do mundo, descompromisso com a realidade ou, na expressão marxista assimilada
pelos cristãos, “alienação”.
Traço típico da civilização
ocidental, onde louvamos a eficiência e a produtividade, a ênfase na ação
deriva de uma visão otimista de nós mesmos e da aposta quase exclusiva no
resultado de nossas atividades. Um mestre do Oriente diria que nos falta uma
dose de humildade...
Gerhard Tersteegen [1697-1769] reflete
sobre este equilíbrio necessário:
“Se alguém é verdadeiramente chamado
e enviado pelo Salvador para o serviço e o despertar do próximo, a vida ativa
deve permanecer sempre submissa à vida contemplativa, e esta última deve
permanecer como sua preocupação mais importante.
Quero dizer que esses discípulos não
deveriam dedicar todo o tempo a agir, sair e falar, mas que também é necessário
a tais apóstolos reunir-se frequentemente junto a Jesus para com ele se
entreter e repousar um pouco em um local deserto (cf. Mc 6,30-31). Isto permite
que o serviço da Palavra permaneça sempre ligado à perseverança na oração (cf.
At 6,4) e a ela subordinado.
De modo geral, aliás, eles jamais
deveriam entregar-se desmedidamente às relações e ao trabalho com o próximo,
sob o risco de negligenciar a vigilância sobre si mesmos, ou deixá-la em
segundo plano diante do ensinamento, e poderia ocorrer que, depois de terem
pregado aos outros, sejam eles mesmos desqualificados (cf. 1Cor 9,27).”
Em plena agonia, sabendo que chegara
sua hora extrema, Jesus convida os apóstolos a acompanhá-lo na oração. Pouco
depois, ele volta e os encontra adormecidos. Ainda ressoa em nossos ouvidos a
sua queixa dolorida: “Não pudestes vigiar uma hora comigo?!” (Mc 14,37) E
advertiu seus seguidores: “Levantai-vos e orai para não cairdes em tentação”.
(Lc 22,46)
Orai sem cessar: “Minha alma aguarda
pelo Senhor
mais
que as sentinelas pela aurora.” (Sl
130,6)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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