O
Espírito de Deus sobre as águas... (Gn1,1-19)
O Livro do Gênesis – porta de
entrada para as Sagradas Escrituras – é rico de poesia e de simbolismos. Ainda
que o gênero predominante seja ali o narrativo, o texto se deixa penetrar por
imagens arrojadas, personificações da natureza, matizes de lirismo que ainda
hoje despertam nossa admiração.
Logo na primeira página, vemos em
ação um Deus Criador. Um Deus que trabalha para criar. Um Deus poeta (no
sentido etimológico de poiéo, criar). A seu chamado, comparecem a luz e
os lampadários celestes. As águas se ordenam e um tapete de verdura cobre a
terra. Em suma, o caos se faz cosmo: antes tohu-bohu – termo hebraico
que, com muita dificuldade, traduzimos por “informe e vazio” – o espaço da
Criação obedece ao Logos, o princípio organizador de Deus, que estabelece leis
para a matéria, para a vida e, logo a seguir, para o humano.
A leitura contemplativa do 1º
capítulo do Gênesis revela uma “teleologia” na Criação: tudo tende para um fim,
procura por um alvo. É Deus agindo Deus por etapas, pois a obra da Criação
evolui: um primeiro patamar inorgânico: luz e ar, água e terra. Agora possível,
a vida vegetal constitui o segundo degrau. Com o alimento disponível, vem a
terceira onda: a vida animal.
Enfim, para coroar a obra, o
homem e a mulher serão chamados a reinar sobre a Criação, gerindo e tutelando o
maravilhoso acervo de vida, com a missão de maximizar todo o potencial da
matéria previamente disposto pelo Criador.
Mas, por enquanto, nossa atenção
deve voltar-se para a frase do título: “o Espírito de Deus pairava sobre as
águas”. Alguns Padres da Igreja viram nesta passagem o cuidado de uma ave-mãe a
chocar o ovo da Criação em estado de vir-a-ser. Outros tradutores perceberam
nesse verbo hebraico [que traduzimos por “pairava”, e que aparece uma única vez
em toda a Bíblia, um autêntico hápax] a descrição do voo circular de uma ave de
rapina que mergulha em direção à sua presa.
É bom saber que o Espírito Santo –
como, aliás, toda a Trindade Divina – participa do contínuo trabalho da
Criação. Há séculos, a Igreja o invoca no hino conhecido como Veni Creator:
Vinde, Espírito Criador,
Visita
as mentes dos teus fiéis,
Enche
com a graça celestial
Os corações
que Tu criaste!
Orai sem cessar: “Enviai o vosso Espírito, e tudo
será criado!”
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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