Se não virdes milagres... (Jo 4,43-54)
Os Evangelhos sempre associam Jesus
e os milagres. E como incomodam esses milagres! Os milagres de antigamente e os
milagres de nossos dias. Pois corremos dois perigos em relação a eles...
O primeiro risco está em nos
aproximarmos de Deus apenas na busca de milagres, o que faria de nós uma gente
interesseira, disposta a “usar” a Deus em próprio benefício, sem nenhum
compromisso com a verdadeira adoração e o serviço ao próximo. Uma religião
feita apenas de novenas, promessas e romarias pode ser sintoma dessa
“religião”. Afinal, quantos pediram e receberam a cura e... se afastaram de
Deus e da Igreja, pois já tinham tudo o que desejavam! Neste caso, o Deus dos
dons se torna uma espécie de banco de onde sacamos valores, ou um supermercado
com mercadorias à nossa disposição, que visitamos em caso de extrema necessidade.
O segundo risco está na atitude
racionalista que nega a Deus o divino direito de fazer milagres. Tendo o
Criador estabelecido as leis físicas, químicas e biológicas do Cosmo, Ele mesmo
acaba prisioneiro de suas leis e proibido de alterá-las quando lhe aprouver.
Assim, qualquer manifestação do maravilhoso torna-se alvo das baterias
antiaéreas dos homens da Enciclopédia.
Esses acadêmicos racionalistas
realizam tremendo esforço para “explicar” os milagres da Bíblia conforme seus
parâmetros intelectuais: o paralítico que andou era um doente psicossomático; o
endemoninhado era um caso de epilepsia; Lázaro não estava morto, mas ficara em
catalepsia; e Jesus não transformou água em vinho coisa nenhuma, pois foram os
discípulos que levaram o vinho escondido. E esses escritores de ficção ainda se
chamam de “doutores”!
Ora, nesta cena do Evangelho, quando
um funcionário do rei pede pela cura de seu filho agonizante, a observação de
Jesus se dirige àqueles que só se aproximam de Deus interessados em seus milagres.
E se os milagres faltarem, a fé rola pela sarjeta. “Não vou rezar mais, pois
Deus não me ouve!” “Já cansei de pedir, Deus está surdo!” Enquanto isso, Jesus,
o Filho de Deus, abre mão de seus poderes, aceita a cruz e a morte, e ainda
acha tempo de perdoar seus agressores. Isto é, coloca a sua missão e a
obediência ao Pai acima de qualquer interesse pessoal. Sua “religião” se resume
a fazer a vontade do Pai.
E nós? Qual é a essência de nossa
religião? Queremos um Deus-na-coleira, pronto a atender aos nossos caprichos?
Ou estamos dispostos a consagrar nossa vida ao serviço de Deus, para edificar o
Reino e ajudar o próximo?
Orai sem cessar: “Senhor, és o Deus que fez o
milagre!” (Sl
77,15)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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