Vem
para fora! (Jo 11,1-45)
Lázaro,
“nosso amigo”, dorme o sono da morte. Há quatro dias que está envolto em faixas
e depositado na sombra da caverna. Poderia ainda acordar e contemplar os céus
da Palestina? Ouvir de novo as cotovias? Aspirar os perfumes das montanhas de
Sião? Que grito poderoso conseguiria despertá-lo do sono?
Somente
a voz de Cristo, o Verbo da Vida, tem o poder de chamar os mortos para a vida.
Uma vez rolada a pedra do sepulcro (Jo 11,39), é de Jesus Cristo o grito que
chega aos ouvidos apagados do irmão de Marta e Maria: “Lázaro, vem para fora!”
Ainda enrolado nas bandagens de linho, os pés atados, a face velada, o morto
atende ao imperativo e sai...
Que
grito é este, que chega aos ouvidos do morto e o resgata da morte? Para
François Trévedy, é “o grito do despertador, o grito do parteiro, ou antes, da
própria parturiente, pois Jesus solta aqui, como por substituição, o grito de
nossa morte que se desfaz de nós. E, se o escutamos bem, existe um riso neste
grito. Jesus chama ‘para fora’, isto é, ‘para si’. Jesus, este Irmão que nos
chama para os irmãos, este Outro que areja, pela alteridade de todos os outros,
o modo infernal de existir que fabricamos para nós mesmos: Jesus Cristo em
pessoa é nosso grande Fora”.
De
onde vem a morte? Virá do céu? Virá do inferno? Virá do Cosmo? Ou será que a
morte já habita o coração humano desde a semente inicial? E a morte cresce
quando o homem se fecha em si mesmo, trancado em sua íntima caverna, olhos
fechados para o outro, pés atados que impedem seus passos na direção do Outro.
Fechar-se é morrer...
É
espantoso que nós demoremos tanto a perceber que nossa vida só começa quando
morremos para nós mesmos. A vida começa quando é dada. Por isso mesmo, reflete
Trévedy, “Lázaro poderá agora morrer a boa morte, talvez a do martírio, pois
‘os sumos sacerdotes decidiram matar também Lázaro’ (Jo 12,10). Não há mais
nada a temer. A segunda morte (que é a boa) não tem poder sobre aqueles que
Jesus, Palavra viva até o grito, libertou de todo dobramento sobre si mesmos.
Somente aquele que permanece dobrado sobre si morre de má morte e se decompõe”.
Ficaremos
surdos ao grito de Jesus? Um brado que ressoa do alto do Calvário e ecoa pelas
quebradas do mundo até as infinitudes do Universo? Enquanto ficamos surdos,
permanecemos na morte.
“E
que diz o grito? Ele te chama pelo teu nome, chama teu nome para fora. E qual é
teu nome? Escuta-o pela boca de teus irmãos que, talvez, o sabem melhor que tu
mesmo quando, falando de ti, rezando por ti, chamam o Grito à tua própria
cabeceira: ‘aquele que tu amas’.”
Se
eu consinto neste nome, já estou curado. Estou vivo...
Orai sem cessar: “É a voz do meu amado!” (Ct
2,8)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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