Sou do alto... (Jo 8,21-30)
Diante da figura humana de Jesus, os
judeus de seu tempo experimentavam a mais absoluta in-compreensão. “Quem é esse
homem?” (Cf. Mc 4,41) E é compreensível a sua estranheza, pois ele destoava dos
padrões convencionais. Jesus não havia estudado nas escolas farisaicas, mas
dominava a Lei como ninguém. Falava com sotaque de galileu, mas superava a mais
refinada filosofia clássica. Vivera trinta anos como carpinteiro, mas deixava
sem saída os doutores da Lei.
Claro, a in-compreensão dos
contemporâneos (aqui incluída a própria “família” de Jesus, cf. Mc 3,1) brota
de sua incapacidade de ir além da aparência humana, terrestre, do estranho
Rabi. Na verdade, ele só poderia ser corretamente entendido a partir do momento
em que o re-conhecessem como alguém que é “do alto”. E Jesus se apresenta como
quem não é aqui “de baixo” (ek ton káto, da região inferior) como seus
ouvintes, mas lá “de cima” (ek ton áno, da região superna, isto é, do
céu).
Barrentos que somos, filhos de Adão,
tentamos reduzir tudo às dimensões do húmus (humanas, claro!). E diante
de nós, no entanto, está Aquele que “desceu” do Altíssimo e ass umiu nossa humanidade,
mas permanece divino, superando tudo aquilo que a humana ciência poderia dizer
sobre o Cosmo, a matéria e... o psiquismo humano. Os olhos da carne jamais e as
elucubrações da mente não chegam lá...
Por isso mesmo, em vão se esforçam
os céticos na tentativa de reduzir o Jesus “que vem do alto” a alguma das
categorias aqui de baixo: um sábio, um cérebro superior, um “iluminado”, um
homem bonzinho tão maltratado, um E.T., um grande líder, um guerrilheiro –
sabe-se lá que mais!
Daí a frase aparentemente hermética
que Jesus falou a Nicodemos (Jo 3,1-21), na escuridão da noite: “Necessário vos
é nascer do alto” [gennethẽnai ánothen]. Enquanto não nascemos do
Espírito e permanecemos orientados por uma visão simplesmente terrestre e
material, Jesus permanecerá um enigma para nós...
E quando esse re-nascimento nos for
dado (você o quer?), nosso coração será invadido por um sentimento da mais
suave gratidão, da mais luminosa alegria, pois então saberemos que Aquele que
era “do alto” desceu e veio a nós: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”
(Jo 1,14).
Na Ascensão, subindo de volta ao
Pai, Jesus abre-nos o caminho para a mesma subida, vivendo (desde já) como quem
busca o alto. E entenderemos o conselho de Paulo: “Se, portanto, ressuscitastes
com Cristo, buscai as coisas lá do alto...” (Cl 3,1)
Orai sem cessar: “Levanto os olhos para vós, que
habitais nos céus.” (Sl
122,1)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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