...
te cobrirá com a sua sombra... (Lc 1,26-38)
Neste Evangelho, inaugurando a Nova
Aliança, a nova Tenda é Maria, prometida em casamento. Nada mais sugestivo que
o Senhor se dirija a uma noiva para consumar o matrimônio de Deus com a
Humanidade, através da Encarnação de seu próprio Filho! É sobre Maria de Nazaré
que a “sombra” de Deus vem repousar em definitivo.
O encanto e o mistério da cena da
Anunciação magnetizaram os olhares dos artistas ao longo dos séculos. A
intuição de Fra Angelico e Leonardo da Vinci, a penetração teológica de
Bernardo de Claraval, o místico lirismo de Claudel – eis apenas alguns exemplos
dessa atração irradiada pelo momento da Encarnação do Verbo em Maria. Pintores,
pregadores e poetas sabem que se trata de um instante único da história dos
homens, que é também a História da Salvação.
Este Evangelho da Anunciação é um
“espaço sagrado” aberto à nossa permanente visitação. Ou melhor, um espaço que
nos convida a entrar e ali permanecer, como quem encontrou sua morada
definitiva. François Trévedy percebeu-o muito bem:
“Os mistérios de Maria não são
simples vitrines para nós, mas domicílios. O que esta página evoca, em sua
inocência tão intencional, é a maneira como a Palavra se relaciona com cada um
de nós; em outros termos, o único acontecimento interessante e decisivo que,
através de todos os outros (e não em alguns outros) possa vir a nós. Deus passa
à nossa porta mais pessoal, a mais baixa, e faz a busca de nossa humanidade
individual que ainda falta à sua paixão pela carne (cf. Cl 1,24). Se a
disputamos com ele, se nós a recusamos, como poderemos confessar: ‘Et homo factus est?’ [E fez-se homem].”
Foi EM Maria, uma jovem mulher, que
a eternidade do Verbo assumiu nosso tempo e o transformou em sua Hora, a hora
de nossa salvação. A Porta do Céu para os homens é também a Porta da Terra para
o Filho que desce em busca de nossa humanidade. Porta de entrada e de saída, Maria
nos induz ao Caminho, a única Via para o Pai.
Maria, Mãe de Deus, conhece a Hora.
Conhece a “hora da Vida”, quando o Verbo se faz carne. E conhece a “hora de
nossa morte”, como rezamos em cada Ave-Maria. Nela se deu a primeira pulsação
do Salvador feito homem. Nela se dará com segurança a nossa última pulsação
nesta terra.
Orai sem cessar: “Em minha carne, verei a Deus!” (Jó
19,26)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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