sábado, 28 de março de 2015

PALAVRA DE VIDA

 Um só homem pelo povo... (Jo 11,45-56)
Desde o Antigo Testamento, os pecados do povo de Israel eram “apagados” com o sangue de um animal. Escolhida a vítima, suspensa no poste por uma pata traseira, o cordeiro (ou bode, cf. Lv 9,3; 16,8) tinha a veia jugular seccionada, recolhendo-se o sangue em uma bacia, para ser depois aspergido sobre a assembleia reunida, como rito de purificação e penitência. Um pagava por todos. E tudo parecia muito justo. Vem daí a imagem do “bode expiatório”.
A História humana registra a existência de muitos bodes expiatórios. Um milhão e meio de armênios foram massacrados pelo Império Turco-otomano. Nos campos de concentração nazistas, milhões de judeus foram exterminados nas câmaras de gás. Em pequena escala, estamos sempre procurando por alguém que possa ser culpado ou responsabilizado por nossos pequenos mal-estares.
Neste Evangelho, ainda que inconscientemente, o Sumo Sacerdote Caifás profetiza a respeito da missão do Salvador: “Interessa que morra um só homem pelo povo!” E o próprio evangelista João interpreta de imediato essa profecia: a morte de Jesus era o sacrifício que traria de novo a unidade dos filhos dispersos com o Pai. A sua morte voluntária seria o antídoto para o pecado e o remédio que nos daria nova vida.
Após Pentecostes, o Espírito Santo convenceria a Igreja, sempre mais, a respeito do sentido salvífico da morte de Jesus. É Paulo quem assevera: “Se por um só homem, pelo pecado de um só [Adão] reinou a morte, com muito maior razão aqueles que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão na vida por um só, que é Jesus Cristo!” (Rm 5,17)
Claro que Caifás pensava em outra coisa... Diante dos milagres de Jesus, o povo o queria como rei (Jo 6,15). A pretensão de ser o rei dos judeus seria gravada no título da cruz do Calvário como o motivo da morte de Jesus. Pilatos o interrogaria a esse respeito (Jo 18,33). E Caifás temia que a agitação crescente e uma possível sublevação provocassem violenta reação das legiões romanas estacionadas na Palestina. A garantia da paz e da manutenção do status quo pactuado entre os romanos e as autoridades do Templo era a eliminação de Jesus. Sua morte garantiria a paz para todos...
Mais uma vez, a amorosa Providência divina iria atuar por meio dos projetos humanos, mesmo quando estes incluem o ódio visceral e os interesses mais vis, usando a mão assassina dos poderosos para escrever uma nova História.
Deus costuma joga para perder, sabendo que vai ganhar no último lance. Aliás, esta é a marca do Amor...

Orai sem cessar: “Rompeu-se a armadilha e nos achamos livres!” (Sl 124,7b)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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