Não desviei o
rosto... (Is
50,4-7)
Durante
a Semana Santa, a sagrada Liturgia oferece à nossa meditação alguns textos
preciosos do Profeta Isaías. Aquela experiência histórica dos profetas, que
inclui perseguições e morte, torna-se profecia da Paixão e Morte de Nosso
Senhor.
De tal
forma o Livro de Isaías está ligado ao Messias esperado por Israel, que muitos
o consideram como um proto-Evangelho (um Evangelho que se antecipa aos
Evangelhos do Novo Testamento).
Nesta
passagem, falando em primeira pessoa, Isaías se identifica com Cristo, o discípulo
perfeito do Pai, a quem ouve com ouvidos dóceis e coração atento, sem que nada
o afaste de sua missão salvífica. Mesmo abalado em sua natureza humana, a ponto
de suar sangue em sua agonia, no Getsêmani, Jesus foi adiante em seu sacrifício
salvador, sem se desviar dos golpes, das ofensas, da cruz.
A Face que revelava o Pai foi
alvo de golpes e cusparadas. O Rosto que Maria beijou foi esbofeteado pelo
guarda do Sumo Sacerdote. Mas o Servo do Senhor não se esquivou. Apoiado no
amor do Pai, Jesus não reluta diante do método escolhido para nos salvar. Ele
não se rebela perante a dor e a humilhação. Se o pecado entrara no mundo por um
ato de rebeldia e autonomia descabidas, a entrega de Jesus assume o caminho
oposto, que Paulo define como despojamento e aniquilação (cf. Fl 2).
Mas podemos ler esta palavra de
Isaías em um novo sentido. “Não desviar o rosto” é bem uma atitude típica de
nosso Deus. Ele não fica indiferente diante de nossa dor. Ele não assume
atitude neutra quando o mal nos atinge. Ele é o mesmo Deus que VÊ nossa
aflição, OUVE nosso clamor, CONHECE nossos sofrimentos e, por isso, DESCE para
nos salvar (cf. Ex 3,7ss).
Ao contrário, desviar o rosto de
alguém que passa por nós seria sempre um gesto de repulsa, de fechamento do
coração. Denota indiferença ou ruptura de relações. Os amigos se encaram, os
apaixonados se beijam. A mãe se debruça sobre o berço e o olhar do bebê a
contempla, face a face.
Na Semana Santa, mais que ficar
comovidos diante das dores do Senhor Jesus, deveríamos sentir-nos impelidos a
anunciar ao mundo inteiro que nosso Deus é Amor. Um Deus que se faz carne,
convive conosco, senta-se à nossa mesa, palmilha nossas estradas, sem nunca se
desviar de nós.
Depois do Calvário, tudo está
mudado: a Humanidade sabe que não caminha mais sozinha...
Orai sem cessar: “Anunciarei vosso nome aos meus irmãos!” (Sl
22,23)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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