Lavar-me os pés?! (Jo 13,1-15)
Carregada de incontida emoção, a
frase expressa todo o espanto de Simão Pedro. O que Jesus lhe propunha, ao
final da Ceia, constituía uma inaceitável inversão de posições: o servidor é
quem deve lavar os pés do seu Senhor. Não o contrário, como Jesus se dispõe a
fazer.
Claro que Jesus, o Mestre do amor,
tinha acima de tudo uma intenção pedagógica. Tratava-se de oferecer um modelo
de comportamento a ser imitado a seguir: “Assim também vós deveis lavar os pés
uns aos outros.” (V. 14) Daí em diante, o espírito de competição, a volúpia de
mando e a busca de honrarias já não teria cabimento entre os seguidores de
Jesus...
É fácil perceber que, naquele
momento da Última Ceia, Pedro não pôde compreender o aparente absurdo. Somente
mais tarde, ao morrer crucificado como seu Mestre, o velho pescador mostraria a
todos que tinha chegado a compreender. Também a fé precisa de tempo...
No Ícone oriental do Lava-pés, Jesus
tem a toalha e a bacia. Onze dos apóstolos são figurados sem as sandálias, isto
é, estão prontos a aceitar o gesto imprevisto de Jesus. Somente Judas
Iscariotes se mantém calçado: ele recusa que Jesus lhe lave os pés, pois
previamente decidira não corresponder a esse amor humilde... E a humildade de
Jesus é muito exigente...
Meditando este Evangelho, compus o
soneto “Lava-pés”, na Quinta-feira Santa de 2004:
Senhor
Jesus, tu vens lavar-me os pés
Manchados
de poeira e de pecado?!
Não
vais ficar também emporcalhado,
Tu
que és mais puro do que o aloés?
Lavas
meus dedos! Sabes bem: são dez...
Com
eles caminhei no rumo errado
E,
dos Dez Mandamentos afastado,
Acabei
prisioneiro das galés...
Jesus,
sem ter pecado, sem ter falha,
Tu
prendes na cintura uma toalha,
Enchendo
de água pura uma bacia...
E,
depois de lavar-me do meu crime,
O
teu Sangue de novo me redime
E
vem lavar minh’alma todo dia...
Orai sem cessar: “Lava-me por completo da minha
iniquidade!” (Sl
51,4)
Texto
e poema de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança
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