Vou
celebrar a ceia em tua casa... (Mt 26,14-25)
Deixemos de lado o filho da perdição
e prestemos atenção à presença do Senhor em nossa mesa, celebrando conosco a
ceia pascal. A narração é de Lev Gillet:
“Jesus e os Doze estão presentes na aliya, o quarto de cima, em torno da
mesma mesa. Prolonga-se este crepúsculo de março ou abril. Lâmpadas rituais
foram acesas. O sol desapareceu, mas, lá fora, sobre as colinas, sobre os
campos, ainda se espalham rastilhos de suave luz. Mas a noite cai e, quando um
dos Doze sai, ela já veio.
A ceia pascal chega ao fim. Foram
cumpridos os ritos prescritos. As conversas se amortecem e param. Aqui e ali,
algumas palavras ditas a meia voz ainda se fazem ouvir. Depois, o silêncio. A
voz do Mestre se eleva. Ele pronuncia palavras que ninguém pudera prever, que
jamais tinham sido ouvidas. Ao refazer, com um pouco de pão e uma taça de
vinho, certos gestos simples de todos os dias, ele lhes comunica uma
significação nova. Fala de seu corpo dado e de seu sangue derramado para a
remissão dos pecados.
O Mestre ergueu os olhos para o Pai,
enquanto suas mãos se elevam um pouco, também elas, e depois se estendem com
recolhimento, contidas, para os elementos da oblação, num gesto que sobriamente
aponta e abençoa.
E agora o Mestre abaixa os olhos
semicerrados para a mesa e os apóstolos. Ele depôs suas duas mãos sobre a mesa.
É o dorso das mãos que repousa, estende-se sobre a madeira. O interior das mãos
está aberto, apresentado aos apóstolos. Assim, as mãos estão estendidas para
eles. É um gesto de generosidade, um gesto de convite.
A expressão do olhar do Mestre
corresponde ao gesto. O olhar, os lábios (cujos cantos não estão sem tristeza),
a cabeça ligeiramente inclinada, tudo no Senhor contribuiu, de modo indizível,
para exprimir o apagamento, o abandono, a oferenda. O Salvador doa. Ele se doa.
Todo inteiro, ele é dom.
O Mestre se levanta. E eis que,
tendo nas mãos o prato e a taça, ele se aproxima de cada um dos discípulos, um
após o outro: ‘Tomai...’ (Mt 26,26) A cada um ele pronuncia em voz baixa uma
frase que os outros não podem ouvir, e só é compreendida por aquele a quem é
dita.
Eu estou lá, também eu. Vejo-me
presente entre os discípulos. Irei tomar o que me é oferecido? Terei eu esta
presunção? Que palavra secreta o Mestre me dirá? Hesito, e depois eu me decido.
Avanço um pouco e espero.
O Mestre se aproxima de mim. Ergue
os olhos. Envolve-me com apenas um olhar rápido. De novo ele abaixa os olhos.
Estende-me os dons que ele oferece a todos e, quando eu os tomo, ele me diz
como em um murmúrio: ‘Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a
sua cruz e siga-me’.”
Orai sem cessar: “Preparas
uma mesa para mim...”
(Sl 23,5)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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