Até quando? (Jo 10,22-30)
A pergunta dos judeus a Jesus
costuma ser um indicativo de impaciência. “Até quando nos manterás em suspenso?
Afinal, tu és, ou não, o Messias esperado? Estamos cansados de esperar por uma
definição!” Claro que tinham má intenção: como S. Agostinho comenta, seu
objetivo não era converter-se ao Messias, mas ter mais um motivo de calúnia e
condenação contra o Rabi.
Há outras passagens da Bíblia com a
mesma pergunta inquieta e – por que não confessar? – um tanto desesperada. Como
no Salmo 13 [12]: “Até quando, Senhor, de todo vos esquecereis de mim?” Esta
impaciência sempre vem à tona de nossas almas quando a cruz é pesada e nada
indica que logo nos será tirada. É como se sofrêssemos a cota de hoje e, por
antecipação, já sofrêssemos também o peso do mesmo madeiro por toda uma
sucessão de dias, semanas e anos futuros.
Bem, reconheçamos: estamos
mergulhados no tempo. Somos seres históricos, ainda que vocacionados ao eterno.
E temos grande dificuldade em trabalhar com tempo, pois nossa pretensão é
viver, JÁ, a perfeição celestial. As imperfeições desta estrada provisória – a
nossa vida terrena – nos incomodam muito. Tanto as imperfeições que existem em
nós quanto aquelas que pululam nos outros. Temos grande dificuldade em esperar
pelo tempo de Deus.
“Até quando? Até quando?” Eis o
refrão que a mãe repete quando o filho comete (outra vez!) o mesmo impropério.
É o suspiro renovado da esposa que recebe (outra vez!) o marido bêbado. É o
gemido do enfermo que ouve do médico a frase condenatória: “Vamos ter de
iniciar outra série de quimioterapia...” E, no entanto, é no tempo que
realizamos nossa história de salvação. É na sucessão, tantas vezes monótona, de
dias e de cruzes, que estamos edificando um Reino para Deus. E cada dia que
passa é mais um tijolo no muro da Jerusalém Eterna.
Teremos surpresas, sim senhor! A
grande novidade será chegar do outro lado, contemplar o Reino edificado e
verificar – para espanto e alegria! – que entre as pedras da Cidade de Deus
estão plantadas não apenas as boas obras e os sucessos de nossa vida... mas a
argamassa, a unir as pedras, será feita de nossos erros e pecados, angústias e
insônias, suspiros e lágrimas...
Orai sem cessar: “Esperei, esperei o Senhor:
ele se inclinou
sobre mim, ouviu o meu grito.” (Sl
40,2)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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