Comentando
este salmo da Primeira Aliança, Santo Agostinho escreve: “O Senhor ilumina.
Somos iluminados. O Senhor salva. Somos salvos. Fora dele somos trevas e
fraqueza”. Já na Nova Aliança, o evangelista João vem afirmar: “Deus é luz, e
nele não há treva alguma”. (1Jo 1,5) E acrescenta: “Se dizemos ter comunhão com
ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a verdade”.
Este
traço da natureza divina evidencia-se como uma espécie de revelação percebida
pelas antigas religiões do Oriente Próximo, cujas divindades eram representadas
com uma resplendente auréola. Nessas antigas mitologias, as entidades que
concorriam com a divindade principal buscavam roubar-lhe o resplendor.
As primitivas
cosmogonias registram um eterno combate entre as trevas e a luz, aliás,
conceito retomado pelos gnósticos e pelos cátaros. E foi a luz exatamente a
primeira “criatura” que o Deus da Bíblia chama à existência (cf. Gn 1,3). A
seguir, seriam criados os lampadários para iluminar o dia e a noite.
Na vigília
pascal, uma das leituras de nossa liturgia relata a “noite” da libertação,
quando a nuvem divina se interpôs entre os israelitas e o exército egípcio que
os perseguia: a “nuvem” [= presença de Deus] era luminosa do lado de Israel,
mas tenebrosa do lado do Faraó (cf. Ex 14,20).
No
Antigo Testamento, a recusa de Deus é vista como uma espécie de cegueira, pois
a Bíblia atribui um valor espiritual à visão e à sua falta. Por oposição, uma
das palavras utilizadas para designar o profeta de Yahweh era “ro’eh”, ou seja, um “vidente”. Neste
sentido, a experiência religiosa seria uma “visão” de Deus e de sua luz
incriada.
Jesus Cristo
iria frisar que um cego não pode guiar outro cego. Na 2ª Carta aos Coríntios,
Paulo denuncia a mesma cegueira: “O deus deste mundo cegou a inteligência
desses incrédulos, para que eles não vejam a luz esplendorosa do Evangelho da
glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. (2Cor 4,4)
O
fariseu Nicodemos escolheu a escuridão noturna para dialogar com Jesus, ouvindo
do Mestre esta verdade que se aplica de modo especial ao nosso tempo: “Todo
aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras
não sejam reprovadas”. (Jo 3,20)
Em
nossas celebrações, estão sempre presentes as velas acesas, que remetem ao
Círio Pascal, fabricado com a “cera virgem de abelha generosa”. Peçamos a Deus
que nunca nos falte o óleo do Espírito Santo, esse azeite que as cinco virgens
sábias não deixaram faltar.
Orai sem cessar: “É na vossa luz que vemos a luz!” (Sl 36,9)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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