Jesus
continuou o seu caminho... (Lc 4,16-30)
Este
Evangelho registra um episódio de grande importância na vida de Jesus. No tempo
sagrado do sábado judaico, no espaço venerável da sinagoga, como um judeu fiel,
o Filho do carpinteiro sobe à bimah –
a plataforma de onde se proclamava a Tanak
[acrônimo de Torah, Nebiim, Ketubim],
ou seja, a Lei, os Profetas e os Escritos.
Talvez como
homenagem ao compatriota que regressava a sua aldeia, dão-lhe o “livro” do
profeta Isaías – na verdade, um rolo, geralmente de pele de carneiro, que no
caso de Isaías podia medir 12m de extensão. Para chegar ao capítulo 61, que
iria proclamar, Jesus deve ter levado vários minutos manuseando com extremo
cuidado a película delicada e sujeita a rasgos, enquanto todos os olhares se
fixavam nele.
Depois de
ler a profecia de sete séculos atrás – falando da missão messiânica, da unção
do Espírito, da Boa Nova aos pobres e uma regeneração total do humano -, Jesus
se assenta e faz um sermão de uma só frase: “Hoje se cumpriu esta profecia”.
Era como se dissesse: “Sou eu o prometido”...
Da
admiração inicial, porém, e após certa provocação do próprio Jesus (v. 23-27),
os presentes à sinagoga passam à agressão furiosa e por pouco não o precipitam
morro abaixo. E Lucas simplesmente anota que “Jesus continuou o seu caminho”.
Vale a pena
fixar-nos neste detalhe: Jesus tem um “caminho”. Ele tem consciência clara de
sua missão. Ele não se preocupa em agradar os poderosos, como Herodes, ou os
dirigentes religiosos, como os doutores da Lei e os sacerdotes saduceus, ou
mesmo a sedutora “opinião pública”. Mesmo debaixo de injúrias, mesmo diante de
oposição cerrada, mesmo diante da ameaça de morte, Jesus de Nazaré segue
adiante.
Quando já
se prenunciava o cruento destino que lhe preparavam, Jesus não hesita nem
treme: “E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta
hora que eu vim!” (Jo 12,27)
Que
dizer da figura humana de Jesus? Como não admirar sua determinação de seguir
adiante, ainda que seus contemporâneos ignorassem os sinais e milagres por ele
realizados? Como não se deslumbrar diante de sua constância, que não era uma
espécie de rígida obstinação, mas arraigada confiança na Providência do Pai? No
momento de sua prisão, Jesus manda que Pedro guarde a espada e observa: “Ou
pensas que eu não poderia recorrer ao meu Pai, que me mandaria logo mais de
doze legiões de anjos?” (Mt 26,53)
Não
estaria aqui a causa de tantos fracassos, tantas quedas, tantas desistências em
nosso meio? Por desconhecermos a própria missão, por não termos chegado a
descobrir a vontade de Deus a nosso respeito, caímos por terra diante dos
obstáculos e oposições...
Orai sem cessar: “Mostra-me, Senhor, os teus caminhos!” (Sl 25,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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