terça-feira, 1 de dezembro de 2015

PALAVRA DE VIDA

 Escondeste aos sábios... (Lc 10,21-24)

            Pode ser que alguém estranhe esta oração que Jesus faz ao Pai, dando-lhe graças porque os mistérios divinos foram ocultados aos sábios, enquanto aos humildes tudo foi revelado. Será que Deus, a Fonte de todo conhecimento, pretende manter alguém na ignorância?

            Ora, todos sabem que há várias modalidades de orgulho. O fazendeiro se orgulha de possuir a melhor vaca leiteira da região. O subsecretário se orgulha do carro importado recém-adquirido. A esposa se orgulha pelo marido promovido na carreira. Mas existe um orgulho de natureza intelectual, que se rejubila intimamente por saber (ou pensar que sabe...) mais do que os outros, essa “gentinha ignorante” (cf. Jo 7,49).
            Este último tipo de orgulho deu origem a várias heresias, como algumas “gnoses” que atribuíam nossa salvação a conhecimentos esotéricos reservados a poucos. Se Deus se revelasse ao homem orgulhoso, ele haveria de erguer a crista e se gabar de ter descoberto os arcanos divinos graças à própria penetração dos mistérios.
            Vale lembrar o diálogo de Nicodemos (cf. Jo 3) com Jesus, iniciado pela frase: “Rabi, nós sabemos que és um mestre vindo de Deus...” Este “nós sabemos” deixa escapar um ar de presunção, de autossuficiência, como se se tratasse de uma descoberta pessoal. Poucas frases depois, será a vez de Jesus perguntar a Nicodemos, em tom de ironia: “Tu és um doutor de Israel e não conheces estas coisas?!” (Jo 3,10)
            E Lev Gillet acrescenta: “E nós mesmos, que proclamamos saber quem é Jesus e o que lhe diz respeito, que sabemos dele na verdade?” Além dos artigos de fé repetidos no “Símbolo dos Apóstolos”, que saberíamos dizer sobre ele?
            O bom cientista torna-se mais humilde à medida que se aprofunda nos mistérios do Cosmo; ou melhor, na medida em que os mistérios do Cosmo o envolvem e o arrastam às profundezas do não-saber. A debilidade do conhecimento racional mostra-se ainda maior quando se trata das coisas divinas.
            Já o pequenino, que tantos rotulam de ignorante, ele deixa em suspenso o raciocínio lógico e dobra os joelhos, implorando ao Espírito de Deus as luzes que jamais seriam obtidas pela razão. Lição que Agostinho aprendeu na praia, quando tentava “entender” o mistério do Deus Uno e Trino, e o menino da visão lhe mostrou ser impossível guardar o oceano em um dedal...
Orai sem cessar: “Tenho os olhos fixos no Senhor...” (Sl 25,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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