Escondeste aos sábios... (Lc 10,21-24)
Pode ser que alguém estranhe esta
oração que Jesus faz ao Pai, dando-lhe graças porque os mistérios divinos foram
ocultados aos sábios, enquanto aos humildes tudo foi revelado. Será que Deus, a
Fonte de todo conhecimento, pretende manter alguém na ignorância?
Ora, todos sabem que há várias
modalidades de orgulho. O fazendeiro se orgulha de possuir a melhor vaca
leiteira da região. O subsecretário se orgulha do carro importado recém-adquirido.
A esposa se orgulha pelo marido promovido na carreira. Mas existe um orgulho de
natureza intelectual, que se rejubila intimamente por saber (ou pensar que
sabe...) mais do que os outros, essa “gentinha ignorante” (cf. Jo 7,49).
Este último tipo de orgulho deu
origem a várias heresias, como algumas “gnoses” que atribuíam nossa salvação a
conhecimentos esotéricos reservados a poucos. Se Deus se revelasse ao homem
orgulhoso, ele haveria de erguer a crista e se gabar de ter descoberto os
arcanos divinos graças à própria penetração dos mistérios.
Vale lembrar o diálogo de Nicodemos
(cf. Jo 3) com Jesus, iniciado pela frase: “Rabi, nós sabemos que és um mestre
vindo de Deus...” Este “nós sabemos” deixa escapar um ar de presunção, de
autossuficiência, como se se tratasse de uma descoberta pessoal. Poucas frases
depois, será a vez de Jesus perguntar a Nicodemos, em tom de ironia: “Tu és um
doutor de Israel e não conheces estas coisas?!” (Jo 3,10)
E Lev Gillet acrescenta: “E nós
mesmos, que proclamamos saber quem é Jesus e o que lhe diz respeito, que
sabemos dele na verdade?” Além dos artigos de fé repetidos no “Símbolo dos
Apóstolos”, que saberíamos dizer sobre ele?
O bom cientista torna-se mais
humilde à medida que se aprofunda nos mistérios do Cosmo; ou melhor, na medida
em que os mistérios do Cosmo o envolvem e o arrastam às profundezas do
não-saber. A debilidade do conhecimento racional mostra-se ainda maior quando
se trata das coisas divinas.
Já o pequenino, que tantos rotulam
de ignorante, ele deixa em suspenso o raciocínio lógico e dobra os joelhos,
implorando ao Espírito de Deus as luzes que jamais seriam obtidas pela razão.
Lição que Agostinho aprendeu na praia, quando tentava “entender” o mistério do
Deus Uno e Trino, e o menino da visão lhe mostrou ser impossível guardar o
oceano em um dedal...
Orai sem
cessar: “Tenho os
olhos fixos no Senhor...” (Sl 25,15)
Texto de Antônio
Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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