Ele vos batizará com o Espírito Santo... (Lc 3,10-18)
Nas margens pedregosas
do Jordão, João Batista anunciava a iminente aproximação do Reino de Deus, na
pessoa de Jesus. Acolher o Reino trazia uma exigência de con-versão, isto é, de
escolher um novo rumo para a própria vida, a começar pelo arrependimento dos
erros passados. Daí, o convite a um banho ritual, um batismo [isto é,
“mergulho”] nas águas, as mesmas águas que, séculos antes, haviam lavado a
lepra do sírio Naamã (cf. 2Rs 5,14).
Mas este “batismo” (mero
rito de purificação) era apenas um gesto provisório, na expectativa de outro
mergulho, já agora no fogo de Pentecostes. Por isso mesmo, João Batista orienta
os olhares de todos para Jesus, a fogueira de amor de onde viriam as chamas do
Espírito: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
Na manhã de Pentecostes,
cumpre-se a profecia de João: línguas de fogo acompanham o Vento divino e
baixam sobre cada um dos presentes no Cenáculo de Jerusalém. Como observa Lev
Gillet, “há uma relação estreita entre o vento e a chama, entre o sopro e o
fogo do Espírito”. Os antigos, com seu fogão de lenha, sabiam muito bem a
importância do sopro para manter viva a chama...
De fato, não há fogo sem
ar. A chama se manifesta no sopro. “Também há, na chama, uma junção do Espírito
com o Verbo – diz Gillet. O elemento luminoso é o Verbo, claridade suprema, luz
do mundo. Ele ilumina todos os homens. Mas o fogo não seria percebido sem essa
combustão invisível que é a obra do Espírito e que faz emanar o calor. A
combustão, a operação do Espírito Santo, torna aparente a Luz, o Cristo. A
Pomba mostra o Cordeiro.”
Jesus sabia muito bem
que os apóstolos, encarregados de dar continuidade à sua missão, não
convenceriam o mundo pagão com palavras e arrazoados lógicos, conservados no
gelo da simples filosofia. Eles precisavam de fogo. E foi para que suas
palavras fossem abrasadas no Amor divino que, na manhã de Pentecostes, veio Fogo
do céu, cauterizando seus pecados, derretendo as pedras do medo, dinamizando
seus gestos.
Não há combustão sem que
a matéria seja consumida. O fogo do Espírito - tal como ocorre no incenso dos
turíbulos – queima para transformar, arde para transfigurar, consome para
elevar aos céus o espírito humano, tão pesado e apegado à matéria. Era esta a
promessa do Batizador...
Orai sem cessar: “Das chamas de fogo, Senhor, fazes teus ministros!” (Sl 104,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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