E fazendo-lhes perguntas... (Lc
2,41-52)
Não deixa de ser um tanto irônico
que o Verbo de Deus – agora encarnado, nascido de Mulher – seja encontrado no
Templo, após três dias de angustiada procura, fazendo perguntas aos doutores da
Lei. Como se os coitados tivessem algo a lhe ensinar...
Pela vida a fora, já crescido, esse
mesmo Menino que oculta em sua Pessoa humana o inescrutável mistério de Deus,
iria ouvir uma tempestade de perguntas: “Mestre, onde moras?” “Donde me
conheces?” “És tu aquele que há de vir?” “Que devo fazer para ter a vida
eterna?” “Tu és o Rei dos judeus?” “Que é a verdade?” E assim por diante,
incansavelmente.
Hoje, passados vinte séculos, nós
ainda entendemos que Jesus ouve nossas perguntas, e deve ter respostas
adequadas para cada uma delas. Passado tanto tempo, ainda insistimos em lhe
apresentar nossas dúvidas e inquietações. Daí nossa insistência em perguntar.
Mas a estrada é de mão dupla: em sua
existência terrena, também Jesus de Nazaré se dedicou a fazer perguntas a seus
interlocutores. E algumas delas, reconheçamos, bastante incômodas. E são
perguntas que não perderam sua oportunidade mesmo em nossos dias. De fato,
Jesus é um permanente questionamento a todo homem que vem a este mundo.
E Jesus me pergunta: “Tu crês no
Filho do homem?” “Que queres que eu te faça?” “Na Escritura, o que você lê?” E,
dirigindo-se a todos nós: “Sobre que vocês conversavam pelo caminho?” “Quantos
pães vocês têm?” “Podeis beber o cálice que eu vou beber?” “Não era preciso que
o Cristo sofresse tudo isto?” E, afinal, a pergunta mais difícil de responder
sem comprometer toda a minha existência: “Tu me amas?”
Como diz François Trévedy, “no
começo do Evangelho, na infância do Evangelho estava a Pergunta, isto é, o
Verbo, em sua Via, em sua Vida interrogativa. Jesus Cristo se supõe a tudo,
como Pergunta, para tudo remexer e tudo pôr em questão. E Jesus supõe da mesma
forma que nós lhe façamos perguntas sobre ele, em relação a nossas vidas
pessoais e à história, até aquilo que trazemos diante dele na intimidade de um
ato de fé propriamente dramático”.
Seria desperdiçar o Natal uma
passagem nossa pela gruta de Belém sem apresentar ao Menino aquelas perguntas
que ainda não acharam respostas...
Orai sem
cessar: “Levanto a ti o meu clamor, e me
respondes...” (Sl
86,7)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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