Imediatamente deixaram as redes... (Mc 1,14-20)
Se
o Reino está próximo, entramos em ritmo de urgência. Se o Cordeiro já está no
meio de nós, as velhas atividades perdem sua importância. Não admira, pois, que
Simão e André deixem “imediatamente” as suas redes para seguir a Jesus.
Todos sabem do valor das redes para
um pescador. Elas são seu instrumento de trabalho: lançadas ao mar, voltam com
o peixe precioso que alimenta os homens e sustenta os profissionais da pesca. E
os dois abandonam as redes ao primeiro chamado...
Metros adiante, é a vez de Tiago e
João, interpelados por Jesus em pleno trabalho. Também eles interrompem sua
faina e deixam as redes... e a barca... e o próprio pai!
Então, não eram apenas as ferramentas
profissionais que poderiam ser obstáculo para o seguimento de Cristo?! Até o
pai?! Sim, qualquer apego afetivo – mesmo os mais legítimos – pode ser apresentado
por nós como razão (ou pretexto) para abrir mão da missão recebida.
Se alguém vê aqui algum exagero, por
certo desconhece as palavras de Jesus: “Quem ama pai ou mãe mais do que a mim,
não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim, não é digno de
mim”. (Mt 10,37)
Parece demais? Pois há outro ângulo
para avaliar a situação. Também são palavras de Jesus: “Todo aquele que tiver
deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu
nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna”. (Mt 19,29)
Sem este desapego, não há missão.
Sem estas rupturas, não teremos missionários. E não seria exatamente o
envolvimento por um mundo novamente paganizado, onde os altares pertencem ao
dinheiro, à segurança e ao sucesso, a explicação para a sensível redução no
número de missionários?
Há poucos anos, falaram-me sobre um
seminário, mantido por uma tradicional congregação religiosa, onde cada
seminarista tem sua própria suíte, com TV, ar condicionado e frigobar. Seria
isso uma preparação para as missões entre os indígenas da Amazônia? Ou um
treinamento para resistir às dificuldades entre os nativos da África?
E Jesus, esse insistente: “Quem não
toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim”. (Mt 10,38a)
Orai sem
cessar: “Aqui
estou!” (Gn 22,1)
Texto de Antônio
Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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