Por que estais com medo? (Mc 4,35-41)
O coração do homem pode ser alvo de
feras terríveis, como o ódio, a inveja e o ciúme. Mas é o medo que paralisa
seus passos, recolhe suas mãos e impede que ele assuma a missão que Deus lhe
reservou.
Neste Evangelho, um vendaval ameaça
levar ao fundo a barca que vai sendo inundada pela água embravecida. Jesus
dormia, como anotou o Evangelista? Ou simulava dormir no meio de toda a
agitação, testando a reação dos discípulos? O fato que é eles vão acordá-lo,
vencidos pelo terror. “Não te importa que pereçamos?”
Neste início de milênio, a sociedade
planetária também se vê ameaçada em sua sobrevivência: graves alterações
climáticas, a crescente poluição, o buraco da camada de ozônio, tudo faz pensar
em uma catástrofe sem proporções. Enfermidades novas (como a AIDS) e antigas
(como a tuberculose) são virtuais pandemias. Os desequilíbrios sociais e
econômicos alimentam a onda terrorista.
Diante desse panorama, duas reações
predominam: o desespero pânico e o cinismo niilista. Em ambos os grupos, não se
percebe nenhum sinal de esperança, de confiança em um Deus que é Pai e, por isso
mesmo, saberá cuidar de seus filhos. É desta convicção que brota o dinamismo
capaz de animar alguém a se comprometer com algum tipo de trabalho para
recuperar o ambiente degradado, recompor as relações sociais, reduzir a
desigualdade econômica.
Há outras tempestades na vida
humana. Traições da pessoa amada. Doenças inesperadas. Perda de entes queridos.
O coração sitiado por paixões avassaladoras. A injustiça sistêmica. Seja qual
for o mar agitado que nos cerca, é Jesus quem nos vem perguntar: “Por que estais
assim com medo? Não tendes fé?” No fundo, é como se Ele nos dissesse: “Não
percebeis que eu também estou na mesma barca? Não abandono a Igreja à sua
humanidade? Não me ausento de vosso lar?” A impressão de que estamos sós,
abandonados à nossa fragilidade, é ilusão ou tentação. Ou as duas coisas...
Aliás, os não-cristãos estão
permanentemente de olho em nós. Querem ver nossas reações diante das
dificuldades desta vida. Se nos deixamos dominar pelo medo, abanarão a cabeça e
duvidarão de nossa fé. Se permanecermos em paz, é este exato testemunho que
pode aproximá-los do Senhor Jesus!
Orai sem
cessar: “O Senhor reduziu a tempestade ao silêncio,
e
as ondas se calaram.” (Sl 107,29)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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