Só temos cinco pães... (Mc 6,34-44)
É imensa a
multidão. E tem fome. Jesus contempla a paisagem da penúria humana e vê que são
como ovelhas sem pastor. Logo ele, Jesus, que se apresenta como “o bom
Pastor”...
Não admira
que o Mestre recuse a sugestão dos discípulos: despedir os que o seguiam e
mandá-los de volta com fome. Jesus tem outra solução: “Dai-lhes vós mesmos de
comer!”
“Dar o quê?”
– perguntam os discípulos. “Não temos mais que cinco pães!” Fica bem claro que
o problema é da Igreja. O problema é “nosso”. Não temos o direito de voltar as
costas à multidão que tem fome, seja do pão de trigo, seja do Pão da Palavra.
Hébert Roux
comenta a passagem: “Por esta ordem dirigida aos discípulos, Jesus indica
claramente que ele leva a sério a miséria material do mundo, tanto quanto sua
angústia espiritual. Ele não permite à Igreja deixar de lado as questões
práticas e se desembaraçar dos problemas apresentados por alguma situação
econômica. Tampouco permite justificar sua inação por sua impotência e pobreza,
dizendo: ‘Só temos cinco pães e dois peixes’.
Menos ainda,
Jesus sugere uma solução humana, uma nova organização da sociedade que viesse
suprimir ou resolver a questão do pão. Numa palavra, Jesus se mantém igualmente
afastado de um espiritualismo ignorante das realidades humanas, e de um
messianismo terrestre e carnal que, sob o pretexto de aplicação e de
realizações concretas, desconhecesse a realidade da graça que existe em Cristo”.
Aí estão bem
nítidas as duas tentações que frequentam nossas comunidades: de um lado, viver
um cristianismo aéreo, nefelibata, dirigido a homens sem corpo e sem fome; de
outro lado, um cristianismo que conta apenas com o suor e o compromisso
socioeconômico para socorrer a multidão sem pastor, como se Deus fosse alheio e
indiferente.
Se Jesus
aproveita a miserável contribuição humana – cinco pães e dois peixes – para
saciar a multidão faminta, também é verdade que sua intervenção pessoal supera
toda expectativa possível a partir da mesma contribuição. Assim aprendemos a
contar com a Graça de Deus. Só ela possui o poder e o dinamismo para
transformar – desde já – o panorama de uma humanidade faminta.
Orai sem cessar: “Senhor, tu preparas uma mesa para
mim...” (Sl 23,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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