domingo, 21 de fevereiro de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Conversavam com ele... (Lc 9,28b-36)

            Quando meditamos sobre a Transfiguração de Jesus na alta montanha que a Tradição identifica com o Monte Tabor, nosso olhar costuma se concentrar na luz, na brancura das vestes, no fulgor que cega. Não seria antes o caso de fechar os olhos e abrir os ouvidos? Não seria o excesso de luz exatamente um convite a trocar a visão pela audição?

            Sim, a Transfiguração é um momento de conversas. Na horizontal, Jesus conversa com a Lei (Moisés) e com a Profecia (Elias). Diríamos que a Palavra conversa com a Palavra: Moisés recolhera nas tábuas de pedra a Palavra que o dedo de Deus – o Espírito Santo – gravara a fogo para o povo a caminho; Elias fizera ecoar em Israel a Palavra viva que denunciava a idolatria. E Jesus Cristo é aquele que encarna em definitivo a Lei e a Profecia.
            Na vertical, acima do cume da montanha, estende-se a nuvem onde se oculta o Pai. E é da nuvem que sai a voz a identificar o Filho: “Este é meu Filho, o Eleito! Escutai-o!” Os dois eixos da comunicação traçam uma cruz sobre o Tabor. Não admira que falassem exatamente sobre a “saída desse mundo” que Jesus viveria em Jerusalém, pregado na cruz.
            Nenhum de nós precisa galgar as ásperas encostas do Tabor. Não é aquela extrema luminosidade extraterrestre que deve prender nossa atenção. Importa, sim, ouvir a voz do Pai que nos diz o essencial: escutar Jesus!
            Muita gente estaria disposta a subir montanhas para presenciar espetáculos pirotécnicos, a dança do sol e o remoinho das estrelas. Pouca gente se dispõe a fechar os olhos e acolher – nos ouvidos e no coração – a voz do Pai que nos orienta para o Filho.
            Na hora sombria do Calvário, os relâmpagos são breves, a luz se esconde, todo brilho desvanece. Só ficarão ao pé da cruz aqueles que ouvem e praticam a palavra de Deus (cf. Mt 7,24).
            Quando acordaram Pedro, Tiago e João, só viram a Jesus. E, de fato, não precisavam ver mais nada. Ninguém mais. Basta o Filho de Deus para preencher toda a paisagem e concentrar todos os nossos olhares. Mas de nada adiantaria ver a Jesus dia e noite e, afinal, fazer como Judas, que viu, mas não ouviu...
            Parece que nosso tempo não é tempo de visões. A tela da TV concentra todos os olhares. No entanto, nada impede que nossos ouvidos se voltem para a fonte da revelação, onde o Filho nos chama para o Pai.
Orai sem cessar: “Ouvirei o que diz o Senhor Deus!” (Sl 85,9)

Tradução de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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