Odiarás o teu inimigo! (Mt 5,43-48)
Este é um
mandamento que teria muitos seguidores. Parece até que já existem. Mas o
imperativo para o ódio e a vingança já foi abolido nas páginas da Nova Aliança.
E foi Jesus o autor da “reforma”.
Dentro do
“Sermão da Montanha” (Mt 5 a 7), Jesus contrapõe “o que foi dito aos antigos” e
o “eu, porém, vos digo”. Com isso, ele abolia velhos costumes e tradições. A
nova medida da Lei consiste exatamente em amar o inimigo e rezar pelos
perseguidores. Trata-se de notável e imprevisto refinamento da Lei antiga,
elevada a altitudes impensáveis. Na Nova Aliança, o zelo cruento do profeta
Elias (cf. 1Rs 19,40) jamais teria lugar.
E não contente de assim ensinar,
Jesus o praticou. No momento de sua prisão, regenerou a orelha de Malco, um dos
guardas que o prenderam, ferida pela espada de Pedro. Cravado na cruz, Jesus
rezava intensamente: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem!” (Lc
23,34)
Alguém diria
que é desumano. Que está fora de nosso alcance. De fato estaria, se contássemos
apenas com nossos esforço e boa vontade. Mas é possível galgar essas alturas se
nos apoiamos na graça de Deus. Foi dessa maneira que o primeiro mártir da
Igreja, o diácono Estêvão, conseguiu rezar enquanto era lapidado pelos adversários
judeus: “Senhor, não os condenes por este pecado!” (At 7,60)
Nos anos de
participação na Pastoral Carcerária, na Grande BH, conhecemos uma senhora que
visitava um detento todos os domingos. Era o jovem assassino do filho dela. A
mãe da vítima adotara o criminoso, levava-lhe um bolo, consertava as roupas
dele e dizia: “Faço por ele o que eu faria por meu filho, se ele estivesse
preso”.
Há quem se
admire deste comportamento. Na verdade, deveríamos ficar espantados com outra
coisa: aqueles que se dizem cristãos, seguidores de Cristo, mas acumulam
ressentimentos, preparam vinganças e defendem com unhas e dentes a pena de
morte.
A história
da Igreja é a saga de milhares e milhares de mártires que deram sua vida em
benefício de outros e em nenhum momento assumiram a atitude de vítimas, mas
caminhavam para o martírio entoando salmos de louvor, felizes de pisar as
pegadas de seu Mestre e Senhor.
Teríamos a
coragem de pedir a Deus um coração manso e humilde?
Orai sem cessar: “Por amor a meus irmãos, direi:
‘Paz para ti!’” (Sl 122,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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