Pode ser
que dê frutos... (Lc 13,1-9)
Pode
ser. Pode não ser. Até agora a figueira estéril não deu fruto algum. Apenas
ocupou espaço. Pior ainda: segundo o exegeta Joachim Jeremias, que viveu muitos
anos na Palestina, a figueira faz muita sombra e impede que os cachos de uva da
parreira amadureçam e deem bom vinho. Em resumo, um desastre!
Não
admira que o dono da vinha dê a ordem: “Corta-a!” O admirável é que se disponha
a suspender a sentença e estender o tempo da misericórdia por mais um ano,
apostando em um “talvez”...
Ah!
O mistério do tempo! É no tempo que tudo acontece, na sequência de horas, dias
e anos, temos as nossas oportunidades. Aqui e ali, um evento põe-nos de orelhas
em pé: a ameaça de uma guerra, um terremoto devastador, uma barragem que se
rompe. Se não fomos atingidos, respiramos fundo. Mas deviam servir de
advertência para nós...
Comentando
esta passagem do Evangelho, Urs von Balthasar diz: “O Evangelho é feito de
puras advertências. Já os primeiros acontecimentos deveriam ter sido
interpretados neste sentido: é a cada um de nós que a espada de Pilatos ameaça,
sobre cada um de nós a torre pode desmoronar a qualquer momento.
A
figueira estéril não é amaldiçoada aqui, mas abusou ao extremo da paciência do
proprietário. Ela não mereceu que se cave a seu redor para jogar adubo: é uma
graça – talvez a última! Uma graça a ela oferecida, que não dá frutos
automaticamente, mas que ele, o homem simbolizado pela figueira, deve fazer
frutificar colaborando com a graça.”
É
estranho que alguém se sinta diante de uma ameaça ao ler este Evangelho. Antes,
deveria refletir: “Como Deus é bom! Por tanto tempo eu tenho sido infiel, e
Deus ainda não me chamou ao Juízo. Chegou a hora de mudar de vida e de dar
frutos de salvação...”
No
imaginário bíblico, a “vinha” representa o povo de Israel, tanto que os cachos
e as folhas de parreira aparecem em muitas moedas do povo escolhido. Deus
esperava que Israel desse frutos antes do desastre do ano 70 d.C., com a ruína
definitiva de Jerusalém. Daí a interrogação que o Senhor se faz em Isaías 5:
“Que mais deveria eu ter feito por meu vinhedo?”
Ainda
temos tempo. Quando começaremos a frutificar?
Orai sem cessar: “Graças a
mim é que produzes fruto.” (Os 14,9b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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