domingo, 28 de fevereiro de 2016

PALAVRA DE VIDA

Pode ser que dê frutos... (Lc 13,1-9)
            Pode ser. Pode não ser. Até agora a figueira estéril não deu fruto algum. Apenas ocupou espaço. Pior ainda: segundo o exegeta Joachim Jeremias, que viveu muitos anos na Palestina, a figueira faz muita sombra e impede que os cachos de uva da parreira amadureçam e deem bom vinho. Em resumo, um desastre!

            Não admira que o dono da vinha dê a ordem: “Corta-a!” O admirável é que se disponha a suspender a sentença e estender o tempo da misericórdia por mais um ano, apostando em um “talvez”...
            Ah! O mistério do tempo! É no tempo que tudo acontece, na sequência de horas, dias e anos, temos as nossas oportunidades. Aqui e ali, um evento põe-nos de orelhas em pé: a ameaça de uma guerra, um terremoto devastador, uma barragem que se rompe. Se não fomos atingidos, respiramos fundo. Mas deviam servir de advertência para nós...
            Comentando esta passagem do Evangelho, Urs von Balthasar diz: “O Evangelho é feito de puras advertências. Já os primeiros acontecimentos deveriam ter sido interpretados neste sentido: é a cada um de nós que a espada de Pilatos ameaça, sobre cada um de nós a torre pode desmoronar a qualquer momento.
            A figueira estéril não é amaldiçoada aqui, mas abusou ao extremo da paciência do proprietário. Ela não mereceu que se cave a seu redor para jogar adubo: é uma graça – talvez a última! Uma graça a ela oferecida, que não dá frutos automaticamente, mas que ele, o homem simbolizado pela figueira, deve fazer frutificar colaborando com a graça.”
            É estranho que alguém se sinta diante de uma ameaça ao ler este Evangelho. Antes, deveria refletir: “Como Deus é bom! Por tanto tempo eu tenho sido infiel, e Deus ainda não me chamou ao Juízo. Chegou a hora de mudar de vida e de dar frutos de salvação...”
            No imaginário bíblico, a “vinha” representa o povo de Israel, tanto que os cachos e as folhas de parreira aparecem em muitas moedas do povo escolhido. Deus esperava que Israel desse frutos antes do desastre do ano 70 d.C., com a ruína definitiva de Jerusalém. Daí a interrogação que o Senhor se faz em Isaías 5: “Que mais deveria eu ter feito por meu vinhedo?”
            Ainda temos tempo. Quando começaremos a frutificar?
Orai sem cessar: “Graças a mim é que produzes fruto.” (Os 14,9b)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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