Era um homem justo... (Mc 6,14-29)
O profeta
que apontou o Cordeiro de Deus também morreu como um cordeiro. Vítima inocente,
seu martírio parece pouco valorizado entre nós. Talvez por não ser um “despachante”
especializado, como aquele santo casamenteiro ou a santa das causas
impossíveis. Ele apenas anunciou, denunciou e morreu.
De fato, a
justiça incomoda. Não a justiça distributiva propalada pelas democracias, mas
aquela Justiça maiúscula que revela a santidade de Deus encarnada em uma pessoa
humana. É o caso de João Batista. Sobre ele, reflete Beda, o Venerável [673-735
d.C]:
“O santo
precursor do nascimento, da pregação e da morte do Senhor demonstrou, no
momento de sua morte, uma coragem digna de atrair os olhares de Deus. Como diz
a Escritura, “se ele, aos olhos dos homens, sofreu um castigo, sua esperança
era portadora da imortalidade”. (Sb 3,4)
Nós temos
razão de celebrar com alegria o nascimento para o céu daquele que fez deste dia
um dia solene por sua própria paixão, ilustrando-o com a púrpura de seu sangue.
E nós veneramos na alegria espiritual a memória desse homem que selou com o
selo de seu martírio o testemunho que ele prestava ao Senhor.
De fato, sem
nenhuma dúvida, João Batista sofreu a prisão por nosso Redentor, a quem ele
precedia por seu testemunho, e foi por ele que deu sua vida. Se seu perseguidor
não lhe pediu para negar o Cristo, mas para calar a verdade, mesmo assim é pelo
Cristo que ele morreu.
O próprio
Cristo disse: “Eu sou a Verdade”. (Jo 14,6) E como foi pela verdade que João
derramou seu sangue, foi também por Cristo. Ao nascer, João testemunhara que
Cristo iria nascer; ao pregar, João testemunhava que Cristo iria pregar; ao
batizar, que ele iria batizar. E ao sofrer primeiro a paixão, João significava
que também Cristo deveria sofrê-la.”
Admiremos
ainda mais a figura de João Batista. Todos os santos vieram DEPOIS de Cristo,
pisando suas pegadas. João veio ANTES, deixando na areia do tempo as marcas que
Jesus Cristo pisaria a seguir. Como precursor (aquele que corre na frente), o
Batista aponta e aposta naquele que ainda não havia ressuscitado, em um ato de
fé que se antecipa à fé de toda a Igreja.
Aquele que
batizava com água foi batizado em seu próprio sangue.
Orai sem cessar: “Fala e não te cales. Porque estou
contigo...”(At 18,9b-10a)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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