De todo o coração... (Mt
18,21-35)
A
parábola “do servo cruel” retrata um pecado mais comum do se imagina: negar a
outrem o perdão que nós mesmos já recebemos. Sinal evidente de que ele não
soube aproveitar a lição de dever e, incapaz de saldar o débito por si mesmo, ter
sua dívida generosamente cancelada. Claro que o desfecho foi sumamente infeliz:
o perdoado que não perdoou acaba vítima de sua própria crueldade.
E
quem é esse “perdoado”? Sou eu. Somos nós. O fardo do pecado e da culpa que
gravava nossos ombros e nosso coração foi abolido com a paixão e morte de
Jesus. Fomos resgatados a preço de sangue (cf. 1Cor 6,20; 7,23). Depois disso,
como negaríamos o perdão a quem nos ofendeu?
Na
Mensagem para a abertura do Ano da Misericórdia, o Papa Francisco comenta a
mesma parábola: “Então o senhor, tendo
sabido do fato, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: ‘Não devias
também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?’ (Mt 18,33) E Jesus concluiu: ‘Assim
procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão
do íntimo do coração.’ (Mt 18,35)
A parábola contém um ensinamento profundo
para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do
Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros
filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi
usada misericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais
evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que
não podemos prescindir. Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no
entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar
a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e
a vingança são condições necessárias para viver feliz.
Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: ‘Que
o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento’. (Ef 4,26) E sobretudo, escutemos a palavra de Jesus que colocou a
misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a
nossa fé: ‘Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia’ (Mt 5,7) é a bem-aventurança a que
devemos inspirar-nos, com particular empenho, neste Ano Santo.”
Nosso
modelo irretocável de perdão é o próprio Jesus Cristo. Ele passou a vida
perdoando os pecados, perdoou a seus carrascos, perdoou a negação de Pedro e
teria perdoado até mesmo a traição de Judas se este não preferisse o caminho
centrípeto do desespero.
Orai sem cessar: “Ao
Senhor pertencem a misericórdia e o perdão!” (Dn 9,9)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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