quinta-feira, 10 de março de 2016

PALAVRA DE VIDA

A lâmpada que arde... (Jo 5,31-47)
                Quando a Palestina parecia envolta em trevas, o povo de Israel esmagado sob o tacão das botas imperiais romanas, uma luz brilhou no horizonte: João Batista! Desde o último profeta, já durava 150 anos o silêncio de Deus. E ele vai falar por João, o batizador.

               Não há luz sem o fogo. Para brilhar, é preciso arder. João Batista, cheio do Espírito Santo, é esse farol ardente na noite de Israel, clareando a trilha por onde logo veremos as pegadas do Salvador.
               Augustin Guillerand retrata a figura de João: “O coração do Batista é o deserto austero de horizontes imensos que permite às almas de desejos tudo adivinhar, um deserto cuja luz ofusca. Feliz aquele que o Batista leva consigo ao deserto, que se assenta com ele sobre a rocha nua, ao sopro do vento abrasador e vivificante, que contempla os vastos horizontes, que sente a nostalgia dos infinitos, que pressente as grandezas de Deus e descobre lentamente as suas ternuras”.
               Não há fogo sem a lenha que se deixa queimar. Não há luz sem sacrifício. João Batista também viveu o mistério da cruz. Na escuridão do úmido calabouço, ele morre sozinho, decapitado por um deboche de Herodes. E Jesus afirma que João foi “o maior entre os nascidos de mulher” (Mt 11,11). No entanto, esse facho de luz não brilharia mais que “uma hora” (Jo 5,35). Não era ele a luz definitiva...
               A luz definitiva é Aquele que o próprio Batista anunciava: o Messias Jesus, que pôde afirmar de si mesmo: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8,12) E para irradiar a luz salvadora, Jesus também ardia como lenho aceso. Sua peregrinação incessante por vilas e aldeias, estradas e desertos, era fruto desse íntimo ardor.
               Os Evangelhos nos falam de um Jesus que se comove e se inflama, se compadece e chora, revelando um fogo interior que ele mesmo declara em sua pregação: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque me ungiu e me enviou”. (Lc 4,18) Esse mesmo Espírito que Jesus devolve ao Pai na cruz: “Nas tuas mãos entrego o meu Espírito”. (Lc 23,46) Agora, sim, os discípulos poderão ser abrasados pelo fogo da manhã de Pentecostes e, ardendo em chamas, cruzar o planeta para anunciar a Boa Nova da Salvação.
               Parece claro, agora, por que são tão poucos os que dedicam sua vida a evangelizar? Sem acolher o fogo do Espírito de Deus, sem se apresentar como lenha para a fogueira, ninguém será um anunciador de Cristo ao mundo...
Orai sem cessar: “Parecia haver um fogo a queimar-me por dentro...” (Jr 20,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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